sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Nathanson: O rei do aborto vira contra


Muitos leitores conhecem em grandes traços a história do Dr. Nathanson. Em 1969 fundou com outras pessoas a Associação Nacional para a Revogação das Leis contra o Aborto (conhecida pela sigla NARAL. Quando mais tarde adotou o nome de Liga Nacional de Ação pelos Direitos Reprodutivos e do Aborto – National Reproductive and Abortion Rights Action League –, a sigla manteve-se). Foi Diretor do Centro de Saúde Reprodutiva e Sexual de Nova York, que na época era a maior clínica de abortos do mundo.No final da década de 70, abandonou a militância a favor do aborto e chegou a ser um grande advogado da causa pró vida, principalmente com o seu livro Aborting America <“A América que aborta”> e com o vídeo The Silent Scream (“O Grito Silencioso”). Este último constituiu uma verdadeira revolução: empregando a tecnologia médica, mostrou de forma definitiva todos os horrores do aborto, tal como realmente ocorre no ventre materno. Esse vídeo e a sua continuação, The Eclipse of Reason (“O Eclipse da Razão”), foram amplamente exibidos, não somente para o grande público através de canais de televisão em todo o mundo, como também em sessões especiais para parlamentares de diversos países.Nathanson logo se tornou alvo da ira das forças que promovem a cultura anti vida nos Estados Unidos. Sua mudança de atitude ao convencer-se da realidade objetiva do aborto – a supressão de uma vida humana inocente – fez dele um tema habitual para radicalizações e sátiras. A partir de então passou a atuar simultaneamente como obstetra de prestígio e como professor universitário, viajando pelo mundo todo para dar conferências em defesa dos não nascidos. Já prestes a aposentar-se, publica a sua autobiografia, que contém não somente impressionantes revelações sobre como um homem pode chegar a ser um abortista, mas também – por ter sido escrito quando estava já às vésperas de dar o último passo da sua conversão e incorporar-se, pelo Batismo, à Igreja de Cristo – um testemunho convincente do poder da graça divina.SEM DESCULPASO livro não é fácil nem agradável de ser lido, pois revela ações más e verdadeiramente repugnantes. O que chama a atenção e merece elogios é o fato de o autor não oferecer nenhum argumento que sirva de desculpa para o seu comportamento. Embora o leitor não encontre nada que justifique a conduta de Nathanson, pelo menos encontrará muitas razões para compreendê-la, ao conhecer como foi a infância e a adolescência do autor. Nathanson relata minuciosamente os seus primeiros anos em Nova York, no seio de um lar em que não havia o menor indício de fé religiosa, nem de lealdade ou carinho familiar. A religião não teve papel algum na sua educação. Sua família, judia, não praticava a fé, embora celebrasse as festas religiosas, da mesma forma que muitas famílias cristãs também festejam de algum modo a Páscoa ou o Natal sem que essas solenidades tenham quaisquer conseqüências práticas sobre a sua forma de pensar ou de agir.

Os Enfeites e o lixo de Natal

O Natal é o período em que damos prendas às pessoas nossas amigas em sinal de estima, gratidão e apreço. É também um balão de oxigénio para os comerciantes em crise, permitindo-lhes um (maior) lucro. Esse lucro que, muitas vezes, não conseguem obter durante o resto do ano e lhes permitem equilibrar as contas.
Época de consumismo e de vazio total e quase absoluto do seu significado originário relacionado com motivos religiosos.
Na realidade, os motivos religiosos relacionados com o nascimento de Jesus Cristo aparecem-nos tão somente através das figuras do presépio que nos surgem apenas como meros ícones aos quais a esmagadora maioria das pessoas, pura e simplesmente, não atribuí qualquer significado prático especial.
Esses enfeites são meros símbolos de ocasião que passam com a época. Assim como o ovo o é com a Páscoa ou as máscaras com o Carnaval ou o cantar os parabéns é com o Aniversário de cada um.
No nosso tempo, as coisas acontecem sem que a maioria das pessoas se interrogue sob o seu significado. As coisas acontecem porque acontecem, e nada mais.
A explicação histórica (e já nem falo na filosófica) dos acontecimentos é dispensada pelo simples respirar. Respirar já é suficiente. Sobreviver já é bom. Quem respira, vive, e isso basta. A falta de tempo e pachorra leva-nos a pensar e a actuar como se tudo o resto que implique mais qualquer coisa seja uma pura perda de tempo.
Por isso, o Natal é bom para renovarmos o nosso stock de consumíveis, roupa, acessórios e quinquilharias. O mesmo stock que, um dia mais tarde, será arrumado em sacos de plástico para ser dado aos pobres ou deitado no lixo ou (valha-nos isso) nos contentores de reciclagem.
Os despojos de Natal que acabam por ficar, além dos que acabam na lixeira, são os enfeites.
Miguel Reis Cunha

Filhos: Peso ou Benção?

O acto da procriação é muito interessante do ponto de vista biológico, mas, em termos práticos pode ser, e às vezes é, muito problemático.
Ter filhos implica ter que fazer mais despesa, renunciar a uma melhor qualidade de vida dos pais em favor dos filhos, ter menos tempo disponível para o lazer, ter mais preocupações, ou mais cabelos brancos, como se diz na gíria e implica até, quase sempre, maiores conflitos entre o casal motivados por situações de stress relacionadas com os filhos.
Conclusão. Perante este panorama horrífico 3 hipóteses se levantam: Ou se decide não ter filhos; ou se decide ter filhos e depois abandoná-los ou, por fim, tem-se filhos por acidente, porque não se utilizaram métodos contraceptivos e então compra-se a “pílula do dia seguinte” ou faz-se um aborto clandestino ou em Espanha e resolve-se o assunto.
Quando se aborda a questão dos filhos há 2 factores que se deveriam ter em consideração, o da solidariedade entre gerações e o da responsabilidade pessoal. Solidariedade porque, de alguma forma, os nossos pais já sofreram aquilo que, agora, poderemos ter que sofrer com os nossos filhos, assim como os nossos avós já o tinham feito com os nossos pais. O problema é que hoje somos mais egoístas e não aceitamos ter que fazer sacrifícios tão facilmente como os nossos pais e avós. Hoje, queremos viver a vida mais e melhor e os filhos são vistos, muitas vezes, como um empecilho a esse desiderato.
Por outro lado, a responsabilidade pessoal passa por alguém que não quer usar o preservativo pense, usando a cabeça de cima, que, entre engravidar a parceira e obrigá-la a ter que fazer um aborto e usar o preservativo, por mais que isso custe ao seu ego, deverá optar por esta segunda hipótese. Não é justo que o nascituro venha a pagar com a vida e seja condenado à morte ainda antes de ter sequer nascido por causa da irresponsabilidade anterior de terceiras pessoas que, por mero acaso, até são seus pais.
A hipótese de ter filhos e abandoná-los, recusando-se não só ao pagamento de uma pensão de alimentos, mas inclusive renunciando voluntariamente ao direito de visita é algo de aberrante e de animalesco, porque até no mundo animal tal raramente acontece. Infelizmente, estas situações são o pão nosso de cada dia e demonstram uma total falta de responsabilidade e desorientação que, por isso, deveriam ser objecto de forte penalização judicial.
Esquecem-se essas pessoas que um dia “vira-se o bico ao prego” e quando os pais forem mais idosos e necessitados será, então, a vez, desses filhos os abandonarem, internando-os num lar de idosos ao qual pouco ou nunca os irão visitar.
Sustentar e educar os filhos é tarefa árdua e, quase sempre, muito desgastante. Mas receber um abraço e sentir o amor de um filho não fará esquecer tudo isso?
Miguel Reis Cunha

Esta é actual e oportuna


Humilhação por ter morto um inocente

Um dos argumentos supostamente mais fortes por parte dos partidários do sim no referendo a favor do assassinato de embriões, vulgo, aborto, é a questão da "humilhação" do julgamento das mulheres que o praticaram.
Devo dizer que, até muito recentemente, uma pessoa que tivesse atravessado a portagem sem pagar teria que se sentar à frente de um Juíz e ser também "humilhado". Milhares de pessoas diariamente são humilhadas por crimes que nunca cometeram e que, por alguém ter apresentado queixa e arranjado 1 ou 2 testemunhas, obrigam-nas a ter que se sentar à frente de um Juíz.
A mim não me choca que uma mulher que tenha promovido a morte do ser que levava no seu ventre se tenha que sentar à frente de um Juíz. É preciso ver que essa pessoa mexeu com a vida humana de outra, não se limitou apenas a cortar uma unha. Ainda que a pessoa seja depois absolvida não vejo em que é que uma abortista é mais do que alguém que passa uma portagem sem pagar e que, pelo menos, prejudicou a BRISA mas não matou ninguém.
Diria, no entanto, que o ideal seria que o juízo sobre as circunstâncias em que o aborto se deu, deveria ter lugar antes da fase de julgamento, nomeadamente na fase de inquérito ou de instrução do crime. Para isso, a lei do processo penal teria que ser alterada e aberta uma excepção. Não me repudia esta solução e penso que faria com que as mulheres que verdadeiramente foram coagidas a realizar o aborto fossem dispensadas de ser julgadas.
Agora, não se pode a priori passar uma esponja sobre um crime, só porque há quem o pratique sob coacção moral ou em estado de necessidade real, pois isso seria isentar todas aquelas mulheres que, na realidade, praticaram o aborto de forma intencional e propositada e sem qualquer coacção externa. Estas obviamente têm que ser julgadas e condenadas.

I. O PRINCÍPIO DO SER HUMANO Prof. Jerôme Lejeune (o pesquisador francês que identificou a origem genética da chamada Síndrome de Down

A CÉLULA ORIGINAL E O GRAVADOR

A transmissão da vida é um facto paradoxal.
Por um lado, sabemos com certeza que o laço que une os pais aos filhos é material, já que o novo ser surgirá do encontro de duas células, o óvulo da mãe e o espermatozóide do pai.
Mas, por outro, sabemos com igual certeza que nenhuma das moléculas, nenhum dos átomos que constituem a célula originária tem a menor possibilidade de ser transmitido, tal qual é, à geração seguinte. Torna-se óbvio, portanto, que o que se transmite não é a matéria dos pais, mas uma determinada modificação desta; ou, mais exactamente, uma forma.
Mesmo sem evocarmos o complexo mecanismo das macromoléculas codificadas que são os vectores da herança, este paradoxo desaparece se observarmos que é comum a todos os processos de reprodução, naturais ou inventados.
Uma estátua, por exemplo, requer um substrato material, de bronze, mármore ou barro. Durante a reprodução, existe em cada instante uma contiguidade de matéria entre a estátua e o molde, ou entre o molde e a réplica. O que se reproduz, porém, não é o material, que pode variar segundo a vontade do fundidor, mas exactamente a forma dada à matéria pelo génio do escultor.
A reprodução dos seres vivos é, certamente, muito mais delicada que a de uma forma inanimada, mas segue o mesmo caminho, como no-lo demonstra um exemplo corrente.
Na fita cassette é possível gravar, por meio de minúsculas modificações de imantação, uma série de sinais que correspondem, por exemplo, à execução de uma sinfonia. Essa fita, colocada num aparelho, reproduzirá a sinfonia, embora nem o gravador nem a fita contenham os instrumentos ou mesmo a partitura.
É de uma maneira semelhante que se reproduz o organismo vivo. A fita de gravação é incrivelmente ténue, pois está representada pela molécula de DNA, cuja pequenez confunde a inteligência. Para fazermos uma ideia, se se reunisse num mesmo ponto o conjunto das moléculas de DNA que especificassem todas e cada uma das qualidades físicas dos seis bilhões de homens que existem neste planeta, essa quantidade de matéria caberia facilmente dentro de um dedal.
A célula original do ser humano é semelhante ao gravador com a fita. Mal o mecanismo se põe em funcionamento, a vida humana desenvolve-se de acordo com o seu próprio programa, e se o nosso organismo é efectivamente um aglomerado de matéria animado por uma natureza humana, isso se deve a esta informação primitiva, e somente a ela. O facto de o ser humano dever desenvolver-se no seio do organismo materno durante os seus nove primeiros meses não modifica em nada este facto.
Para a mais estrita análise biológica, o princípio do ser remonta à fecundação, e toda a existência, desde as primeiras divisões celulares até à morte, não é senão a ampliação do tema originário.
A VERDADEIRA HISTÓRIA DO PEQUENO POLEGAR
A primeira célula que se divide activamente, esse primeiro conglomerado celular em incessante organização, a pequena mórula que vai aninhar-se na parede uterina - será já um ser humano diferente da sua mãe?
Sim. Não somente a sua individualidade genética já está estabelecida, como acabamos de ver, mas este minúsculo embrião, no sexto ou sétimo dia da sua vida, com um tamanho de um milímetro e meio apenas, é já capaz de presidir ao seu próprio destino. É ele, e somente ele, quem por uma mensagem química estimula o funcionamento do corpo amarelo do ovário e suspende o ciclo menstrual da sua mãe. Obriga assim a mãe a protegê-lo; faz já dela o que quer, e continuará a fazê-lo daí por diante.
Quinze dias após a suspensão das regras, quer dizer, na idade real de um mês (já que a fecundação não pode ocorrer senão no 15º dia do ciclo), o ser humano mede quatro milímetros e meio. O seu minúsculo coração palpita já há uma semana, e estão esboçados os seus braços, pés, cabeça e cérebro.
Sessenta dias depois, mede, da cabeça às nádegas, uns três centímetros. Caberia, dobrado, numa casca de noz. No interior de um punho fechado seria invisível, e este punho poderia esmagá-lo, num descuido, sem sequer o perceber.
Mas abri a mão, e vereis que está quase terminado: mãos, pés, cabeça, órgãos, tudo está no seu lugar e só tem que desenvolver-se. Olhai mais de perto, e podereis ler-lhe as linhas da mão e dizer-lhe a sina. E mais de perto ainda, com um microscópio comum, podereis decifrar as suas impressões digitais. Ali está tudo o que é necessário para estabelecer a sua carteira de identidade. O sexo parece ainda mal definido, mas olhai muito de perto a glândula genital: evolui já como um testículo, se é um menino, ou como um ovário, se é uma menina.
O incrível Pequeno Polegar, o homem mais pequeno que o polegar, existe realmente; não o da lenda, mas aquele que foi cada um de nós.
Mas após dois meses funciona já o sistema nervoso? Sim. Se lhe roçarmos o lábio superior com um cabelo, o feto mexe os braços, o corpo e a cabeça com um movimento de fuga.
Aos três meses, se lhe tocarmos o lábio superior, volta a cabeça, pestaneja, franze as sobrancelhas, aperta os punhos e os lábios; depois sorri, abre a boca e consola-se com um trago de líquido amniótico. Às vezes, nada vigorosamente na sua bolsa amniótica e revira-se num segundo!
Aos quatro meses, mexe-se com tanta vivacidade que a mãe sente os seus movimentos. Graças à ausência quase total de gravidade na sua cápsula de cosmonauta, dá numerosas voltas, actos que demorará anos a realizar de novo ao ar livre.
Aos cinco meses, agarra fortemente o minúsculo bastonete que se lhe põe na mão e começa a chupar o polegar esperando a libertação. É verdade que a maior parte das crianças nasce aos nove meses. Mas está já perfeitamente desenvolvida aos cinco.
A cada dia a ciência nos descobre um pouco mais acerca desta maravilha da existência oculta, deste mundo formigante de vida dos homens minúsculos, mais encantador ainda que o dos contos de fadas. Pois os contos foram inventados com base nesta história verdadeira, e se as aventuras do Pequeno Polegar encantaram sempre a infância, é porque todas as crianças, e todos os adultos em que elas se converteram, foram um dia um Pequeno Polegar no seio de sua mãe.
QUANDO ESTÁ TERMINADO O HOMEM?
Resta ver a qualidade mais especificamente humana, aquela que distingue o homem de todos os animais, a inteligência. Quando aparece? Aos seis dias, aos seis meses, aos seis anos ou mais tarde?
Responder com uma só palavra não teria sentido algum; mas podemos, sim, distinguir as etapas do órgão da inteligência, que é acessível à observação.
O cérebro está no seu lugar passados dois meses, mas serão necessários os nove meses completos para que se constituam totalmente os seus dez milhões de células. Na criança que nasce, está então acabado o cérebro? Não. As inúmeras conexões que unem cada célula, por milhares de contactos, a todas as outras, não se estabelecerão totalmente senão aos seis ou sete anos de idade - o que corresponde à idade da razão.
E esta complicada teia de circuitos não poderá desenvolver a sua plena potência senão quando o seu mecanismo químico e eléctrico estiver suficientemente rodado, isto é, aos quinze ou dezasseis anos, idade da plenitude da inteligência abstracta. Isto é tão certo que, passada essa idade, os especialistas em psicometria começam a preocupar-se com os estudantes, já que o inevitável envelhecimento começa aos vinte.
E que dizer das inexplicáveis modificações que, em cada dia, o próprio exercício do pensamento necessariamente acarreta? Quantas destas minúsculas rectificações químicas ou anatómicas nesta imensa rede pensante são necessárias para definir finalmente o carácter, a experiência, ou o prémio de consolação que nos outorga o tempo passado? Quanto tempo é necessário para fazer um homem?
Napoleão dizia que são precisos vinte anos. Um filósofo diria: pelo menos uma vida inteira... e depois a eternidade, acrescenta o cristão, unindo-se desta forma ao tempo do biólogo.
Através do longo rodeio de uma paciente observação, o médico volta a descobrir uma verdade evidente que a linguagem comum reconheceu sempre: o homem nunca está terminado.
Terminado o Pequeno Polegar que se faz criança de peito? Terminado o escolar que se faz adulto? E o próprio adulto estará terminado, quando persiste ainda no seu próprio devir? Dizer que um homem está "terminado" não é a condenação mais grave? Quando recebe o golpe de graça, não se diz que o "acabaram"?
Só se pode julgar aquilo que já se realizou, com base nas provas produzidas; e o julgamento conduz à sanção: recompensa ou castigo, conforme o exija a
justiça. Mas quem pode arrogar-se o direito de julgar a própria inocência?
Condenar um feto pelo futuro, é deixar de ver que o homem está já aí, e que só lhe falta acordar. No coma profundo ou sob anestesia geral, o acidentado não pensa; está inerte e insensível. Por que motivo, durante esta suspensão de toda a actividade mental, a sua vida é sagrada? Porque esperamos o seu despertar.
Pretender que o sono da existência obscura no seio da mãe não é o sono de um homem é um erro de método. Pois se todos os raciocínios não podem comover, se toda a biologia moderna parece insuficiente, se até se rejeitassem átomos e moléculas, e se mesmo tudo isso não pudesse convencer-nos, um só facto o poderia. Basta que esperemos algum tempo.
Isso que tomais por uma mórula informe dir-vos-á um dia o que era, convertendo-se, como vós mesmos, num homem.
E a experiência é fiel. Nada de parecido aconteceria se tivéssemos predito um acontecimento semelhante a propósito de uma célula de um tumor ou mesmo de um óvulo de chimpanzé. [...]
Artigo publicado sob este título em Laissez-les vivre, Éd. Pierre Lethielleux, Paris, 1975, págs. 17-29.

O Aborto nas palavras do Prof. Lejeune (o pesquisador francês que identificou a origem genética da chamada Síndrome de Down)

"Se um óvulo fecundado não é por si só um ser humano, ele não poderia tornar-se um, pois nada é acrescentado a ele."
"Penso pessoalmente que diante de um feto que corre um risco, não há outra solução senão deixá-lo correr esse risco. Porque, se se mata, transforma-se o risco de 50% em 100% e não se poderá salvar em caso nenhum. Um feto é um paciente, e a medicina é feita para curar... Toda a discussão técnica, moral ou jurídica é supérflua: é preciso simplesmente escolher entre a medicina que cura e a medicina que mata".
"A sociedade não tem que lutar contra a doença, suprimindo o doente."
"Um único critério mede a qualidade de uma civilização: o respeito que ela prodiga aos mais fracos de seus membros. Uma sociedade que esquece isso está ameaçada de destruição. A civilização consiste, muito exactamente, em fornecer aos homens o que a natureza não lhes deu. Quando uma sociedade não admite os deserdados, ela vira as costas à civilização"
"Logo que os 23 cromossomas paternos trazidos pelos espermatozóide e os 23 cromossomas maternos trazidos pelo óvulo se unem, toda a informação necessária e suficiente para a constituição genética do novo ser humano se encontra reunida".
"O facto de que a criança se desenvolve em seguida durante 9 meses no seio de sua mãe, em nada modifica a sua condição humana."
"Assim que é concebido, um homem é um homem".
"Não quero repetir o óbvio, mas na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomas masculinos se encontram com os 23 cromossomas femininos, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco da vida"
"...Se logo no início, justamente depois da concepção, dias antes da implantação, retirássemos uma só célula do pequeno ser individual, ainda com aspecto de amora, poderíamos cultivá-la e examinar os seus cromossomas. E se um estudante, olhando-a ao microscópio não pudesse reconhecer o número, a forma e o padrão das bandas desses cromossomas, e não pudesse dizer, sem vacilações, se procede de um chimpanzé ou de um ser humano, seria reprovado. Aceitar o facto de que, depois da fertilização, um novo ser humano começou a existir não é uma questão de gosto ou de opinião.
A natureza humana do ser humano, desde a sua concepção até à sua velhice não é uma disputa metafísica. É uma simples evidência experimental."
"No princípio do ser há uma mensagem, essa mensagem contém a vida e essa mensagem é uma vida humana

OS TÁVORAS

A RTP, desde há algum tempo, tem vindo a divulgar algumas novelas históricas da autoria de Francisco Moita Flores. A meu ver a que de longe mais se destacou pela sua qualidade e até interpretação dos actores foi a do “Processo dos Távoras” (2001), embora em abono da verdade “Capitão Roby” (2000) e “Alves dos Reis” (2000), ambos do mesmo autor também se tenham destacado pela positiva.
Para quem não sabe ou não se recorda, os Távoras e os Duques de Aveiro, ligados por laços familiares eram uma poderosa família de meados do século XVIII que representavam a força da antiga nobreza ligada a uma forte tradição conservadora e intimamente ligada aos Jesuítas.
O episódio que os condenou à morte teve a ver com um atentado que El Rei D.José I sofreu numa das suas investidas amorosas nocturnas. O processo judicial foi rápido e eivado de irregularidades. Mais tarde no reinado de D.Maria procedeu-se a um inquérito rigoroso, tendo-se provado que à excepção do Duque de Aveiro, D.José de Mascarenhas, todos os outros eram inocentes. Diga-se, porém, que a hipótese de um assalto comum efectuado por ladrões numa rua secundária e mal frequentada de Lisboa também nunca foi totalmente posta de lado.
O episódio histórico é marcante por duas razões. Por um lado, porque estas famílias que foram chacinadas representavam aquilo que de mais digno havia na nobreza, com especial destaque para a Marquesa Leonor de Távora, mulher de grande categoria humana. Todos eles tinham já dado provas de grande devoção e lealdade ao Rei. O seu pecado original residiu no facto de serem para o Marques de Pombal uma “força de bloqueio” às suas reformas e ideias.
O debate e litígios políticos são lícitos desde que ambas as partes se respeitem mutuamente. Neste caso, o Marquês de Pombal resolveu o problema das suas forças de bloqueio através da incriminação de toda uma família, incluindo mulheres e crianças, muitas das quais só foram salvas pelo pedido de clemência da Rainha e da sua filha,
Por outro lado, as mortes foram executadas com requintes de crueldade, com torturas dolorosas, algumas públicas, feitas momentos antes da sua decapitação, posterior queima dos corpos e lançamento das respectivas cinzas ao rio Tejo.
O palácio do Duque de Aveiro, perto do local onde os Távoras foram barbaramente mortos e publicamente humilhados fica nas traseiras do tradicional café dos “Pastéis de Belém”, em Belém, aí existindo inclusive ainda hoje uma coluna cilíndrica que marca este triste episódio da nossa história.
Numa altura em que se discute assuntos como tolerância religiosa, respeito pelos pensamentos religiosos e políticos de outros membros da nossa comunidade, liberdade de criação e expressão, penso que seria bom termos como referência este episódio horripilante. Aqui o debate de ideias foi subordinado à violência e à manipulação política de um homem, Sebastião José de Carvalho e Melo que teve tanto de genial quanto de odioso e que não olhou a meios para atingir os seus fins.
Portugal tem uma dívida para com esta família, da qual ainda hoje existem descendentes vivos, aqui e no Brasil.
Já que hoje em dia se comemora tanta coisa, penso que seria vantajoso que, quer os manuais das nossas Escolas, quer o calendário político anual consagrassem o espaço merecido à reflexão e à recordação destes acontecimentos.

Obrigado mamã

Sinto muita pena por não poder ter te feito e não poder ter te dito muitas coisas que certamente te teriam dado mais felicidade. Como tu sabes, a nova vida aqui em S.Brás e o frenesim profissional foram-me impedindo de estar mais tempo contigo, apesar das muitas vezes que falávamos ao telemóvel.
Foste uma das pessoas que, neste mundo, sofreu a morte de um filho menor e isso foi uma hemorragia aberta que te marcou para a toda a vida. Mas ainda assim, apesar de todo o teu sofrimento e de quanto isso te afectou no resto da tua vida, queria-te dizer que foste uma excelente mãe. Queria agradecer-te por me teres ensinado a cumprir as minhas obrigações, e em especial, procurar nunca dever nada a ninguém. Transmitiste-me os valores positivos da geração de 60 que viveste tão intensamente. Dizias-me que, na escola ou na universidade, podia chumbar à vontade e que quando isso acontecesse iríamos jantar fora a comemorar e fostes tu que me deste a experimentar o primeiro cigarro ainda quando tinha tenra idade. Com isso, conseguiste que nunca tivesse chumbado e que nunca tivesse fumado mais na vida. Davas-me a escolher em liberdade e com isso educaste-me na liberdade. Por isso, agradeço-te a educação que me deste: boa e livre.
Obrigado pela atenção que me davas permanentemente; pelos sacrifícios que fizeste por mim; pelos lençóis de flanela quentes e com cheiro a lavado que me punhas nas noites frias de inverno; por estares sempre ao meu lado quando estive doente; pelas palavras de conforto, compreensão e animo que me dizias quando estava preocupado. Tu sabes que aquilo que sou hoje, em grande parte, foste tu que me deste. Obrigado também pelo grande amor que tinhas ao teu neto que era, para além de mim, a tua razão de viver. Não te preocupes, quando ele for grande, vou-lhe contar as duas excelentes avós que teve.
Emocionaste-te há uns meses atrás com aquele filme que falava da história de um filho e de uma mãe que se apoiavam mutuamente em momentos de grande sofrimento porque fostes uma boa mãe, como todas as mães que, por o serem, deveriam-no ser.
Em Lisboa, deixaste a marca da boa disposição própria dos algarvios, sempre alegre e comunicativa. Todos conquistaste e todos sentem, agora, a tua falta. Eu também sinto muito a tua falta. Acredito que fostes numa viagem e que, um dia, voltaremos encontrar-nos em conjunto com todos os que já partiram e que nos são muito queridos. Até lá, desde aí, olha por nós.
Obrigado.

VARIAÇÕES

A nossa sociedade hodierna caracteriza-se pelo extremo materialismo e pela ganância do ter que nos mantém anestesiados e totalmente alheados de outras dimensões da vida humana, roubando-nos tempo para pensar e força para ter vontade de “mudar de vida”.
António Joaquim Rodrigues Ribeiro ou também chamado de António Variações viu-se confrontado com estas duas dimensões. Por um lado, o medo da sua Editora em não ganhar o dinheiro suficiente com os seus discos, o que a levou a adiar sucessivamente o lançamento do seu primeiro disco. E, por outro, a riqueza do seu mundo interior, o mérito raro de ser um homem pensante. Foi o seu irmão, advogado, quem pressionou a sua Editora a cumprir o contrato que tinha assinado e foi também o seu irmão quem, recentemente, levou a esta mesma Editora várias cassetes com músicas inéditas. O resultado dessa persistência foi um êxito; o êxito de António Variações e dos “Humanos” grupo composto com o único fito de cantar aquelas músicas que a doença e a morte prematura o impediu de cantar.
António não percebia nada de música. Limitava-se a escrever as letras, depois num gravador cantava a sua melodia, enquanto batia com o dedo em cima da mesa; pegava então nessas cassetes e levava-as, por fim, à sua Editora que, por sua vez, contratava músicos profissionais para fazerem os respectivos arranjos. Era isso que acontecia antes e foi isso que aconteceu agora com o disco dos “Humanos”, com o mérito de, neste último caso, os arranjos musicais serem já mais sofisticados do que no tempo do cantor.
“Entre Nova York e a Sé de Braga” era como António Variações definia o seu próprio estilo. Um homem que sintetizava em si mesmo a extravagância da sua vida vanguardista, até mesmo na forma de vestir, com a nostalgia da sua aldeia natal, da sua mãe “Deolinda de Jesus” a quem dedicou uma música, dos “Anjos da Guarda” que lhe ensinaram em menino serem a nossa companhia, da “Amália” que era o seu ídolo e a sua religião. Ele representa o choque entre a vida conservadora do campo e a vida fascinante, mas cheia de perigos, da cidade moderna.
O frenesim da cidade e a inquietação que nos leva a querer tudo e a não ficar satisfeito com nada, como ele cantava na sua música “Estou além” ou a exaltação da sua forma de vida extravagante, à boa maneira Bocageana, em músicas como a “Canção do Engate” ou “O corpo é que paga” ou entre muitas outras, a estrofe da canção “A culpa é da vontade”, na qual ele diz “A culpa não é da praia se o meu corpo se ferir / a culpa é da vontade de te sentir / vontade que só morre com a idade / a idade do meu fim.” dão-nos uma imagem daquilo que nós também somos, entre excessos e defeitos e, por isso mesmo, tornam essas músicas, cantaroladas, numa cassete audio, por um barbeiro que veio de uma aldeia perdida no meio do campo, em algo que será para sempre imortal.

A CRISE DO ESPANTO

O “Espanto” era considerado, por Aristóteles, um dos grandes filósofos de todos os tempos, como o primeiro passo para que qualquer homem pudesse iniciar-se no desejo pelo conhecimento de algo.
Quem se espanta, dizia o filósofo grego, deslumbra-se, e isso leva-o a interrogar-se, e da interrogação surge a busca por conhecer aquilo sobre o qual se espantou.
Durante muitos séculos esta foi basicamente a atitude fundamental do Homem, nas mais diversas vertentes da sua actividade. O espanto era a origem dos mais diversos movimentos e reacções individuais ou de massas Por causa dele, desenvolviam-se teorias científicas, aceitava-se com fé as opções religiosas propostas, surgiam convicções políticas, e morria-se por ideais.
Com a revolução industrial, porém, o Homem foi-se tornando cada vez mais auto-suficiente. A saúde, o dinheiro e o bem estar passaram a dominar as suas preocupações. Por isso também, o individualismo e o egoísmo passaram a ser a nota preponderante.
O espanto, enquanto atitude fundamental e primária do conhecimento humano, passou a ser progressivamente substituído por outra atitude: a da angústia. Agora, o Homem trabalha com o único objectivo de lutar contra a angústia da morte, da doença e das más condições de vida. Desde a ciência, passando pelos grandes movimentos sociais, e terminando nos argumentos dos principais best-sellers de livros, CD’s e filmes, tudo anda, agora, à roda da angústia da vida.
O espanto entrou em crise, e quase que morreu, subsistindo apenas, aqui e ali, em bolsas de resistência muito localizadas, muitas vezes, ao serviço da própria angústia.
Uma dessas bolsas de resistência, curiosamente, é a publicidade. Na ânsia de querer vender saúde e bem estar, a publicidade, com o apoio de modernas técnicas de marketing, relembra aos consumidores que há coisas que ainda têm capacidade para nos espantar, como o rir de um bébé, ou uma paisagem bonita, ainda que seja para depois vender umas fraldas ou uma estadia numa pousada.
Parece-me que o desafio dos nossos tempos e, em especial, do nosso século XXI, está precisamente em conseguir com que cada um consiga equilibrar a angústia com o espanto. Negar o primeiro é recusar viver no mundo presente, mas esquecer o segundo é correr o risco de passar ao lado do que, se calhar, pode vir a ser o mais importante.
Por isso, espantem-se!!!

SER DOIDO

Só a loucura tem a virtude de prolongar a juventude, embora fugacíssima e de retardar bastante a malfadada velhice
In “O Elogio da Loucura” de Erasmo de Roterdão

O nosso telejornal e o nosso dia a dia comunitário tresandam a mofo. A modorra, os “lugares comuns”, a banalidade, a chatice e a seca são o que mais caracteriza o quotidiano dos portugueses e, penso eu, de todas as sociedade democráticas ditas modernas.
O Estado Democrático encontra-se cheio de gretas e fendas. Os soldados do modelo de Democracia e de salvação mundial denominado Estados Unidos da América entretêm-se a massacrar inocentes no Iraque, enquanto outros árabes vão-se entretendo a fazer alguns dos seus irmãos irem pelos ares.
O futebol, sim o futebol é o que nos salva. Alegre alienação que nos alivia deste panorama horrífico. Mas o futebol não basta. O Mundial só acontece de 4 em 4 anos e os campeonatos internos de futebol dão para se ir falando, mas não enchem o dia.
Um dia, António Lobo Antunes, numa entrevista, dizia que ninguém é são e todos temos um “pancada”, uns mais, outros menos. O escritor brasileiro Machado de Assis, por sua vez, dizia que o primeiro que disser que é são, então é porque é doido.
Hoje em dia estão muito na moda as depressões. Há depressões causadas por motivos profissionais, por motivos passionais, por motivos de doença ou falecimento. Ser depressivo significa não ter um tubo de escape e fazer com que os gases e demais poluentes fiquem todos dentro, causando danos, por vezes, irreparáveis.
Ser doido, pelo contrário, significa ter um escape. Ser doido não significa necessariamente ser contrário à realidade, mas antes ser ou fazer diferente do que é real.
Ser doido pode ser andar à noite pelas ruas a fazer exercício, ou ficar de pino encostado à parede durante 10 minutos, ou ir de bicicleta de S.Brás à ilha de Faro, ou participar numa manifestação a favor dos leões marinhos da Antárctida, ou fazer como um colega meu que um dia pôs-se à porta da Universidade a recolher assinaturas contra a Ecologia, ou pôr-se em pé da mesa para ver a sala de aulas de forma diferente, como defendia o professor do filme dos “Clube dos Poetas Mortos”, ou vestir de forma diferente, ou deixar crescer uma barbicha, ou usar uns óculos escuros redondos, ou ousar protestar e dizer o que todos pensam, mas ninguém quer dizer, ou pintar o cabelo, ou usar ténis com fato e gravata, ou beber leite num bar à noite, etc...
É preciso lutar contra a repetição, contra o cinzentismo nacional, tão típico dos portugueses. E, por tudo isto é que ser “doido”, neste sentido, é muito, muito saudável e as Câmaras Municipais, o governo e as associações deviam incentivar, cada vez mais, actos de loucura individuais ou colectivos que ora sirvam de libertação, ora sirvam de incentivo à criação e à produtividade .
Não julgo ninguém pelas suas “doideiras”, embora umas talvez sejam mais saudáveis do que outras; desde que não violem a lei e o Código Penal, tudo é legítimo se se acredita no que se faz.
Por isso, no meio disto tudo, o pior de tudo é ser “são” e ficar quieto sem fazer nada. E, no meio de tanta letargia, a verdade é que todos nós corremos muito o risco de cair nessa epidemia.

Natalidade e Aborto

O novo referendo para a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez, eufemismo da palavra “aborto”, deve ser interpretado num contexto político mais vasto. O governo prepara-se para tornar excedentários vários milhares de funcionários públicos. A contestação vai subir em flecha e nada melhor do que uma “manobra de diversão” para fazer desviar as atenções.
Embora ocorra de forma muito subtil e despercebida, estamos perante uma nova forma de combate e desincentivo a natalidade.
Senão vejamos:
O recurso aos contraceptivos começa por evitar a concepção de um novo ser indesejado (até aí tudo bem). Mas se a mulher não se tiver prevenido antes e, por isso, existir a possibilidade de ter havido concepção, então aí entra a chamada “pílula do dia seguinte”. Mas se a mulher não tiver tomado a pílula do dia seguinte, então aí entra a possibilidade de realizar o aborto até às 10 semanas. Mas se isso não for possível e se a mãe tiver o azar de viver em certas zonas do país, então aí entra a dificuldade em nascer numa maternidade que esteja próxima. Mas se o bébé (qual herói Homérico), depois desta epopeia toda, conseguir nascer, a sua mãe, se tiver um trabalho precário, sempre pode ainda vir a perder emprego. Mas se a mãe do bébé não tiver perdido o emprego, terá ainda que fazer uma noitada à porta das Misericórdias ou dos infantários, a mendigar uma vaga para o filho. Por fim, se quiser ir às compras num shopping terá que estacionar o carro longe da porta de entrada ou violar o código da estrada, correndo o risco de ser multada por ter estacionado no lugar dos deficientes e não no lugar das grávidas e acompanhantes de colo que, na esmagadora maioria dos casos, ou é em número insuficiente (Vide Fórum Algarve, em Faro) ou, pura e simplesmente, nem existe (Vide o novo Leroy Merlin, em Albufeira). E isto já para não falar em hotéis, onde, à entrada, se podem ver placas a excluir expressamente a entrada de cães e crianças.
O Estado não protege, nem incentiva a natalidade. Enquanto isso, o sistema de segurança social vai-se afundando cada vez mais, porque cada vez vão existir menos jovens a descontar para um maior número de idosos a viver. O dilema é sempre o mesmo: Ou o Estado e a Sociedade Civil se empenham em criar condições para que se possa nascer, viver e morrer em condições. Ou, nem sequer se tenta, dando-se logo a batalha por perdida, optando-se pela via mais fácil da simples eliminação física. Neste caso, do elo mais fraco que culpa nenhuma tem por a mãe viver num bairro da lata, estar desempregada ou o pai ser um crápula.
Associações como a “Ajuda de Mãe”, a “Ajuda de Berço”, “Vida Norte”, “Ponto de Apoio à Vida” e tantas outras, mostram que é possível transformar o pesadelo de tantas mulheres em alegria e felicidade. Nunca ninguém disse que viver é tarefa fácil. Mas a alguns, deixem-nos, ao menos, tentar !