terça-feira, 5 de dezembro de 2006

O ABORTO E A HIPOCRISIA DA ESQUERDA

Não posso deixar de citar aqui o excelente artigo de Jacinto Lucas Pires, publicado no passado dia 1 de Dezembro no DN:
Já se sabe que a questão do aborto é "complexa", "transversal" e que as habituais cartilhas políticas não bastam para indicar respostas. Ainda assim, devo dizer que estranho muito não haver, à esquerda, mais defensores do "não" no referendo. De facto, e tirando talvez alguns dos chamados católicos progressistas, não se vê ninguém. Estranho-o porque, se há ainda algo capaz de distinguir a esquerda da direita, isso devia ser a vontade de uma real transformação da sociedade e do mundo - contra os realismos-pessimismos que, no fundamental, se satisfazem com o estado de coisas vigente. Ora, tal implica, antes de mais, não capitular perante a "tragédia do facto consumado".Por outro lado, é óbvio que esse "sonho concreto" da esquerda tem de assentar em princípios básicos de humanidade e justiça - e estes não podem deixar de começar pela protecção da vida humana.Ao invés, as esquerdas (por uma vez, todas juntas, dos centros às margens...) cedem ao facilitismo do sim-porque-sim. Paradoxalmente, erguem o aborto a "causa" pós-ideológica, enquanto se rendem à lógica utilitarista (e direitista) que tende a ver o direito como mera regulação técnica de realidades existentes e o mundo como um palco onde são possíveis breves oscilações mas jamais verdadeiras mudanças.Leia-se Pasolini: "(...) A propósito do aborto, é o primeiro, e único, caso em que os radicais e todos os abortistas democráticos mais puros e rigorosos fazem apelo à realpolitik, e assim recorrem à prevaricação 'cínica' dos factos consumados e do bom senso. (...) Reduzem-no a um caso de pura praticidade, a encarar exactamente com espírito prático. Mas isto (como eles bem sabem) é sempre condenável."No Portugal de 2006 é claro que deve ser encontrada uma solução melhor do que a actual, e que nenhuma mulher deve ser humilhada em tribunal por uma decisão terrível e íntima de que só ela conhecerá as circunstâncias exactas - mas cair neste extremo da liberalização total não será um erro maior? E, para a esquerda, não equivalerá o "sim" à aceitação tácita de um sistema de injustiça e desigualdade de oportunidades?Não será assim que a esquerda desiste definitivamente de si própria e aceita, afinal, ser só mais uma peça no jogo do conformismo, do pessimismo, do "politicamente correcto"?

domingo, 3 de dezembro de 2006

A matança dos Inocentes



NENHUM DE NÓS ANTES DE NASCER PEDIU PARA SER CONCEBIDO.

MAS, DE CERTEZA, QUE NENHUM DE NÓS PEDIU, TÃO POUCO, PARA DEPOIS DE NOS TEREM CONCEBIDO, ACABAREM CONNOSCO, ANTES SEQUER DE PODERMOS NASCER.

É DE DOIDOS, NÃO É?

sábado, 2 de dezembro de 2006

SEVILHA E A DESNECESSIDADE DA PERFEIÇÃO

No dia 1 de Dezembro, como habitual todos os anos, costumo ir com a família da minha mulher a Sevilha, Espanha fazer 2 coisas: Comemorar o dia da Independência, gozando com o facto de em Portugal por causa deles ser feriado e de, nesse dia, os espanholitos estarem a bulir. E, ainda, prestar adoração ao Deus Consumo, gastando o dinheirinho que me custou muitas horas a ganhar a comprar roupas, brinquedos e outros quejandos que daqui a uns anitos vão parar à porta da Misericórdia aqui do sitio
No meio daquela confusão toda que são as ruas do centro de Sevilha, enquanto descansava, de horas intermináveis de compras, encostado a um cubo de rua, ao deambular pelo meio daquele frenesim todo de movimento e confusão, os meus olhos depararam-se com um cartaz à porta da Clockhouse, uma subsidiária da C&A que dizia qualquer coisa parecida com "IF YOU LOOK NICE, WHY DO YOU NEED DO BE PERFECT". Achei a frase extraordinária por resumir muito bem os nossos tempos actuais em que basta um pouco de gel no cabelo, um ar cool e a cabeça o mais oca possível....
Parece-me que nem na época mais decadente do império Romano teremos chegado tão baixo. Dizia um amigo meu que hoje é um ilustre deputado do PP, há uns tempos atrás, sobre os meus desvarios de adolescente tardio, "tu precisas é de levar muita porrada". Se calhar, isto aplica-se bem a esta sociedade Ocidental doida.
Miguel