Não posso deixar de citar aqui o excelente artigo de Jacinto Lucas Pires, publicado no passado dia 1 de Dezembro no DN:
Já se sabe que a questão do aborto é "complexa", "transversal" e que as habituais cartilhas políticas não bastam para indicar respostas. Ainda assim, devo dizer que estranho muito não haver, à esquerda, mais defensores do "não" no referendo. De facto, e tirando talvez alguns dos chamados católicos progressistas, não se vê ninguém. Estranho-o porque, se há ainda algo capaz de distinguir a esquerda da direita, isso devia ser a vontade de uma real transformação da sociedade e do mundo - contra os realismos-pessimismos que, no fundamental, se satisfazem com o estado de coisas vigente. Ora, tal implica, antes de mais, não capitular perante a "tragédia do facto consumado".Por outro lado, é óbvio que esse "sonho concreto" da esquerda tem de assentar em princípios básicos de humanidade e justiça - e estes não podem deixar de começar pela protecção da vida humana.Ao invés, as esquerdas (por uma vez, todas juntas, dos centros às margens...) cedem ao facilitismo do sim-porque-sim. Paradoxalmente, erguem o aborto a "causa" pós-ideológica, enquanto se rendem à lógica utilitarista (e direitista) que tende a ver o direito como mera regulação técnica de realidades existentes e o mundo como um palco onde são possíveis breves oscilações mas jamais verdadeiras mudanças.Leia-se Pasolini: "(...) A propósito do aborto, é o primeiro, e único, caso em que os radicais e todos os abortistas democráticos mais puros e rigorosos fazem apelo à realpolitik, e assim recorrem à prevaricação 'cínica' dos factos consumados e do bom senso. (...) Reduzem-no a um caso de pura praticidade, a encarar exactamente com espírito prático. Mas isto (como eles bem sabem) é sempre condenável."No Portugal de 2006 é claro que deve ser encontrada uma solução melhor do que a actual, e que nenhuma mulher deve ser humilhada em tribunal por uma decisão terrível e íntima de que só ela conhecerá as circunstâncias exactas - mas cair neste extremo da liberalização total não será um erro maior? E, para a esquerda, não equivalerá o "sim" à aceitação tácita de um sistema de injustiça e desigualdade de oportunidades?Não será assim que a esquerda desiste definitivamente de si própria e aceita, afinal, ser só mais uma peça no jogo do conformismo, do pessimismo, do "politicamente correcto"?
Os homens são a coisa mais fantástica que há à face da terra. Mas, por vezes, são umas autênticas mulas porque metem argolada e depois disso, metem argolada outra vez. O grande mal do homem não está na falta de inteligência, está na falta de vontade que se deixa seduzir por essa coisinha doce e melosa, como um pudim. E quando assim é, o homem torna-se naquilo pelo qual se deixa seduzir- um pudim que qualquer colher esquarteja e leva à boca até desaparecer. Perceberam?
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
domingo, 3 de dezembro de 2006
A matança dos Inocentes
sábado, 2 de dezembro de 2006
SEVILHA E A DESNECESSIDADE DA PERFEIÇÃO
No dia 1 de Dezembro, como habitual todos os anos, costumo ir com a família da minha mulher a Sevilha, Espanha fazer 2 coisas: Comemorar o dia da Independência, gozando com o facto de em Portugal por causa deles ser feriado e de, nesse dia, os espanholitos estarem a bulir. E, ainda, prestar adoração ao Deus Consumo, gastando o dinheirinho que me custou muitas horas a ganhar a comprar roupas, brinquedos e outros quejandos que daqui a uns anitos vão parar à porta da Misericórdia aqui do sitio
No meio daquela confusão toda que são as ruas do centro de Sevilha, enquanto descansava, de horas intermináveis de compras, encostado a um cubo de rua, ao deambular pelo meio daquele frenesim todo de movimento e confusão, os meus olhos depararam-se com um cartaz à porta da Clockhouse, uma subsidiária da C&A que dizia qualquer coisa parecida com "IF YOU LOOK NICE, WHY DO YOU NEED DO BE PERFECT". Achei a frase extraordinária por resumir muito bem os nossos tempos actuais em que basta um pouco de gel no cabelo, um ar cool e a cabeça o mais oca possível....
Parece-me que nem na época mais decadente do império Romano teremos chegado tão baixo. Dizia um amigo meu que hoje é um ilustre deputado do PP, há uns tempos atrás, sobre os meus desvarios de adolescente tardio, "tu precisas é de levar muita porrada". Se calhar, isto aplica-se bem a esta sociedade Ocidental doida.
Miguel
No meio daquela confusão toda que são as ruas do centro de Sevilha, enquanto descansava, de horas intermináveis de compras, encostado a um cubo de rua, ao deambular pelo meio daquele frenesim todo de movimento e confusão, os meus olhos depararam-se com um cartaz à porta da Clockhouse, uma subsidiária da C&A que dizia qualquer coisa parecida com "IF YOU LOOK NICE, WHY DO YOU NEED DO BE PERFECT". Achei a frase extraordinária por resumir muito bem os nossos tempos actuais em que basta um pouco de gel no cabelo, um ar cool e a cabeça o mais oca possível....
Parece-me que nem na época mais decadente do império Romano teremos chegado tão baixo. Dizia um amigo meu que hoje é um ilustre deputado do PP, há uns tempos atrás, sobre os meus desvarios de adolescente tardio, "tu precisas é de levar muita porrada". Se calhar, isto aplica-se bem a esta sociedade Ocidental doida.
Miguel
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