No fim destes 4 dias de visita do Santo Padre, urge fazer um balanço com alguns comentários à mistura.
1- ENXURRADA
A vinda de um Papa a um país significa sempre a chegada de uma autêntica enxurrada de graças ou, para os mais laicos, forças positivas.
Isso mesmo verificou-se com as anteriores vindas do Papa João Paulo II.
Basta lembrar que o Cón. José Manuel Ferreira que recebeu o Papa no Mosteiro dos Jerónimos abraçou o sacerdócio precisamente na sequência da
magistral homília do Papa João Paulo II, no Parque Eduardo VII. Neste sentido, até se pode dizer que o Papa Bento XVII beneficiou das anteriores vindas do Papa João Paulo II.
O que é certo é que o Papa elevou muito o nível, trouxe-nos energias positivas e serviu, serve e servirá, sem dúvida, para um recarregar de bateriais, para uns, um abanão, para outros e um despertar para outros ainda.
Agora, há que aproveitar esta dinâmica e este impulso, esta onda para explorar ao máximo todos os seus discursos e toda sua mensagem de co-responsabilização que passou a todos nós.
2- DISCURSOS
Dos vários discursos, gostei particularmente da homilia de Fátima e
do discurso aos Bispos onde o Santo Padre concretizou
alguns dos reparos que já tinha feito, em 2007, na visita ad limina.
O Santo Padre fez aquilo a que se chama uma “correcção fraterna” aos Bispos que infelizmente vivem ainda num ambiente de excessivo clericalismo onde se exalta o protótipo do “rato de sacristia”.
A Igreja Portuguesa considera que o bom cristão é o que está metido dentro das actividades eclesiásticas diocesanas quando, pelo contrário, o espírito do Concílio Vaticano II diz precisamente o oposto: O bom cristão deve ser antes o que, preparado pela Igreja, lança-se sem medo para o meio do mundo.
Neste sentido,
o discurso do Papa aos Senhores Bispos chamou para a importância dos leigos e da sua formação, criticou os discursos genéricos que, por vezes, alguns pastores podem fazer que, sendo necessários, exigem uma maior concretização; criticou algum medo dos Bispos em assumirem as suas posições contra a corrente dominante e falou da importância dos movimentos e outras instituições não diocesanas que devem ser usadas em concertação com os objectivos episcopais, sem capelinhas, nem mesquinhez.
Por sua vez, achei o discurso às pessoas da cultura um pouco mais fraco em comparação, por exemplo, com
o discurso aos universitários de La Sapienza que acabou por não ser lido devido ao boicote dos anti-clericais, mas que tinha grande nível e profundidade intelectual.
3- CERIMÓNIAS E ORGANIZAÇÃO
Espectacular a organização quer por parte da Igreja, quer por parte das autoridades. Portugal demonstrou, à semelhança do que já tinha acontecido com o Euro2004 que é capaz de organizar bem eventos e iniciativas de grande dimensão como esta.
Quanto às cerimónias foi impressionante ver a Missa do Terreiro do Paço (ver vídeo supra). As suas colunas que há 1 século atrás assistiram ao regícidio assistiram, agora, naquele dia 11 de Maio, a palavras de paz e concórdia, perante um Tejo pacificado num óptimo final de tarde.
No Porto, foi fantástico ver o carinho e acolhimento tipicamente nortenhos e, em particular, o grande cuidado litúrgico e a beleza dos cântigos, sem dúvida, os melhores de toda a viagem.
Para finalizar, achei curioso o comentário do Padre Borga que, a propósito das câmaras de televisão estarem a fitar, embevecidas, o avião da TAP que subia em direcção aos céus, recordou aquela passagem dos Actos dos Apóstolos, na ascensão aos céus, em que os discípulos ficaram paralisados a olhar para o céu, então um anjo lhes disse "Homens da Galileia, porque estais a olhar para o céu?". Vamos ao trabalho !