Devo confessar que tenho alguma estima e admiração pela socióloga Maria Filomena Mónica. Além de ser uma mulher extremamente culta, tem uma certa aptidão para o estilo biográfico que me atraí bastante.
Parece-me muito importante que se faça o registo da vida das pessoas e da nossa história de forma a que as gerações vindouras possam saber o que se fez de bem, de mal e, se possível, evitar que caíam nos mesmos erros.
Comecei, aliás, a ler com entusiasmo a sua autobiografia "Bilhete de Identidade" que estava a adorar até que me deparei com o desvendar da sua vida intíma e afectiva. Por uma questão de deprimência e pudor, fiquei-me logo por aí.
Li agora a reedição do seu livro "A queda da Monarquia- Portugal na viragem do século", da D.Quixote que contém um acervo de fotografias muito giro e é precedido por um pequeno texto introdutório sobre a queda da monarquia e a ascensão da República.
Nas suas obras, além de um notável trabalho de investigação, Maria Filomena Mónica não demonstra qualquer hesitação em associar a parte científica à sua opinião pessoal sobre os factos que esteve a relatar/investigar.
No texto introdutório a este livro, porém, não deixa de ser chocante que a mesma afirme, por exemplo, que o funeral do rei e do princípe herdeiro tenha ocorrido com as ruas de Lisboa DESERTAS. Trata-se de uma falsidade que pode ser, aliás, facilmente comprovada
no vídeo deste meu post, onde, por estima ou mera curiosidade, se pode atestar o número significativo de populares que estiveram presentes no cortejo fúnebre.
Também me parece tendencioso dar a entender que a culpa do atraso do país que descreve, de forma convincente, é exclusiva do regime monárquico.
Se olharmos para os primeiros anos da República ou até para o regime de Salazar, veremos que ambos esses regimes fracassaram igualmente em muitas das áreas onde a monarquia também já tinha fracassado.
Aliás, não deixa de ser curioso que a descrição que o último primeiro-ministro da Monarquia, Teixeira de Sousa, faz do país, ainda hoje, em áreas como a educação, agricultura, indústria e finanças pública se mantenha praticamente igual à época pré-republicana:
"Este país, que querem fazer passar por agrícola, mas que não produz sequer pão, nem carne para a alimentação pública, e por industrial, mas que, em regra, produz caro e mau, é tributário de países estrangeiros por dezenas de milhares de contos, que representam o excesso das importações sobre as exportações (....). A situação da Fazenda Pública é gravíssima. O orçamento deste ano corre com um déficit de cerca de seis mil contos, acompanhado de uma dívida flutuante de oitenta mil. Tudo está hipotecado, desde o rendimento das Alfândegas até aos últimos títulos emitidos pela Junta de Crédito Público (...)"
Cfr. A Queda da Monarquia. Págs. 31 e 32
Uma última nota para uma lacuna que empobrece a ilustração das dezenas de fotografias que fazem parte da 2ª parte deste livro- praticamente nenhuma delas tem a referência ao ano a que diz respeito, o que teria sido muito interessante para o leitor.