Nos últimos dias, à crise economica e financeira, temos vindo a assistir o agravamento da crise orçamental com graves consequências para a imagem do país e ainda a um agravamento da crise política.
Este panorama já era, aliás, expectável. Nas últimas eleições legislativas, Manuela Ferreira Leite denunciou os abusos do nosso Primeiro-Ministro em matéria de pressão sobre os media e as instituições democráticas e chamou à atenção para o despesismo e a necessidade de contenção orçamental. O povo não quis saber. Optou por ser levado pela máquina de marketing, pela política das inverdades e pela continuação de mais despesismo. Entre a cura mais ou menos dolorosa e a fuga para a frente, o eleitorado optou por esta última via. Agora, estamos todos a pagar a factura e muitos questionam-se se não teremos chegado ao fim da linha. Em recente artigo de opinião, o Dr. Proença de Carvalho defende que o modelo democrático pós-25 de Abril, porque demonstrou não ser capaz de fortalecer a justiça, nem resolver os problemas económicos estruturais do país, está esgotado
Mas esta crise, será uma crise do regime ou uma crise de líderes ?
Se olharmos para a crise dos anos 20 e 30 do século passado, veremos que a crise económica foi resolvida na Alemanha com Hitler e nos EUA, com Roosevelt. Então, vemos que a diferença está na qualidade dos líderes. São os líderes que fazem os regimes.
O problema é que são poucas as pessoas válidas e com qualidades que, hoje em dia, aceitam imiscuir-se na política. Se o fizerem, a sua vida familiar muito provavelmente desmonorar-se-à , a sua vida pessoal e patrimonial será exaustivamente sindicada pelos media, passará a ser alvo da chocata dos blogues e da caricaturização dos humoristas e, do ponto de vista financeiro, se se limitar ao ordenado oficial, certamente não enriquecerá.
A este propósito lembrei-me de dois líderes políticos curiosamente ambos do mesmo século XV, o chanceler inglês Thomas More e o rei português D.João II. Ambos destacaram-se pela sagacidade, simplicidade, pragmatismo e bom senso das suas decisões. Thomas More enfrentou uma catástrofe natural que afectou Londres através do recurso a soluções eficazes e originais e D.João II conseguiu pôr em ordem o déficit do érario público herdado de seu pai através de uma forte contenção orçamental e de uma política de impostos, dando ele próprio exemplo ao sacríficar os seus rendimentos pessoais.
No entanto, hoje em dia, o que conta é a imagem, mais do que o conteúdo; é sobreviver ainda que à base de soluções light que a médio e longo prazo levarão o país ao abismo.
Thomas More morreu decapitado e D.João II envenenado porque, neste mundo, provavelmente não há lugar para este tipo de políticos. Entretanto, sobram os outros...
Publicado no "Notícias de S.Brás", edição de Fevereiro
Sem comentários:
Enviar um comentário