Creio que vou ser capaz. De manhã, antes de começar a trabalhar, passar meia hora a ouvir-me a mim própria, a voltar-me "para dentro". "Submergir-me". Também podia dizer: meditar. Mas esse verbo ainda me assusta um bocado (...) Uma "hora silenciosa" não é fácil de conseguir. Tem que se aprender a consegui-la (...) O objectivo da meditação é, cá dentro, uma pessoa transformar-se numa planície grande e vasta, sem o matagal manhoso que não nos deixa ver. Deixar entrar um pouco de "Deus" em nós, como existe um pouco de "Deus" na Nona de Beethoven".
Esta capacidade de "saber parar" e de reflectir em nós, sobre nós, de nós com os outros e de nós com Deus está, hoje, seriamente prejudicada pelo stress, cansaço e ruído. Mesmo quando se arranja tempo, a cabeça mantém-se a martelar nos 1001 afazeres, preocupações, ansiedades etc. que nos assolam.
Sempre me questionei sobre aquele episódio bíblico em que Jesus visita a casa de uns amigos, Marta, Maria e Lázaro, seus amigos de Betânia. Numa altura em que seria necessário preparar as refeições, a mesa e a casa para, pelo menos, um vintena de convidados, Maria, aos seus pés, põe-se parada a ouvir o Mestre ao que Marta pede a Jesus que censure Maria por não a ajudar na lida da casa. O Mestre, porém, acaba por censurar Marta, por andar atarefada com muita coisa, quando só uma seria necessária.
Mas, então, e quem que lhes prepararia as refeições ? Quem colocaria a mesa, os pratos, copos e talhares? Etc ?
Se nos lembrarmos da multiplicação dos pães e dos peixes, encontraremos a resposta. Mas nem sempre é fácil tomar a decisão de Maria quando sentimos que há outras coisas aparentemente muito mais importantes para fazer.
Diz-se que um dia (talvez no dia 11/09/2001) foram interromper o Papa João Paulo II que se encontrava em oração. Disseram-lhe que tinha de sair da capela porque tinha acontecido uma coisa gravíssima que merecia a sua imediata atenção. O Papa respondeu que se esse acontecimento era assim tão grave, então, isso significava que, por maioria de razão, teria de continuar ainda mais em oração.
E de S.Thomas More diz-se que, por mais de uma vez, fazia o Rei de Inglaterra esperar porque se encontrava em recolhimento.
Meditar ajuda a sublimar o nosso dia a dia, dando-lhe um sentido que, de outra forma, poderá não ter.
Como diz este belíssimo texto fazer meditação implica entrar em ruptura com o "meu" tempo:
"Que para entrar dentro dos meus actos, das minhas palavras, no ser inteiro, é necessário uma ruptura, falésia aberta. Entrar no oração e na Palavra é o risco, suprema fenda. Mas a história de cada vida é carregada de tojos de cimento, hangares de espera, de solidão e sobras de pão. A dor é não entregar o meu tempo ao tempo que é de Deus"
A partir do dia 17, 4ª feira de cinzas, uma pedrada no charco traduzida numa iniciativa original: Descarregar 10 mts de meditação num MP3
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