Numa altura em que Portugal atravessa um enorme déficit de ideias e de líderes, apeteceu-me comprar uma biografia de D.João II, o Princípe Perfeito, falecido aqui no Algarve, mais propriamente em Alvor.
Ainda vou no início, mas já fiquei agradavelmente surpreendido com as enormes qualidades demonstradas por D.João II, quando ainda era princípe.
Na realidade, quando D.Afonso V resolveu invadir Castela para coroar a Rainha D.Joana, sua sobrinha, deparou-se com forte resistência das tropas de Aragão e Castela comandadas por D.Fernando, marido de D.Isabel. Foi, assim, que se deu a batalha do Toro que Manuel de Oliveira no seu filme non ou a vã glória de mandar evocou como um dos maiores desastres do exército português.
Fiquei, no entanto, mais aliviado ao saber que D.João II, na altura ainda princípe ganhou numa das alas da batalha, tendo desbaratado o exército espanhol que se apresentava em maior número. Já o seu pai D.Afonso V, no centro da batalha e com maior número de tropas terá perdido, devido à sua habitual e conhecida precipitação e impulsividade.
Por isso, os castelhanos hesitaram entre o empate e a vitória. Uma coisa é certa, a bandeira portuguesa foi apanhada pelos cavaleiros espanhóis que deceparam as mãos do alferes que heroicamente a segurava. Também fiquei mais tranquilo ao saber (será verdade ou mera propaganda ? ) que a mesma bandeira teria sido resgatada horas mais tarde por um grupo de cavaleiros que acompanhavam o princípe D.João II e que, por acaso, se cruzaram com os espanhóis que íam zombando da nossa bandeira.
De qualquer forma, no início do livro, deu já para detectar uma das grandes virtudes de D.João II, a de ser um estadista muito providente e cauteloso. Previa as possíveis dificuldades e antecipava, à cautela, a forma de as eliminar. Por exemplo, neste episódio, quando D.João II regressa a Lisboa vindo da batalha do Toro, opta por fazer todo o percurso pela zona raiana fronteiriça de forma a verificar o estado dos fortes e suas respectivas guarnições. E, em cada uma delas, consoante o seu número, ía ordenando a alguns dos seus cavaleiros que por lá ficassem, à cautela, de forma a evitar possíveis invasões dos reis católicos por essas zonas porventura mais fragilizadas.
Confrontando com José Sócrates, o contraste é fortíssimo. D.João II, um homem cauteloso que previne o futuro e actua com bom senso. José Sócrates vive para o imediato, não se preocupa com o futuro e não hesita na realização de gastos e desperdícios a favor de uma agenda fracturante de esquerda que vê no enfraquecimento do Estado e na hiperbolização da liberdade individual o critério orientador da sua acção.
Já voltaremos a D.João II, mais tarde.
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