quarta-feira, 14 de março de 2007

Zita


Normalmente costuma-se dizer que quem muda a meio da vida os seus ideiais e aquilo em que sempre acreditou é um troca tintas e um sem carácter.
No caso de Zita Seabra, porém, eu acho que é precisamente o contrário. Embora a minha opinião esteja inquinada pelas minhas próprias convicções pessoais, considero a mudança de Zita algo de positivamente extraordinário.
Lembro-me perfeitamente quando a então deputada do PCP tomava a palavra, com um discurso agudo e demolidor, fazia tremer os seus adversários políticos. Diz-se que Álvaro Cunhal, depois de Zita ter abandonado o PCP, ficou-lhe com um ódio de morte. É a tal situação do amor gerar ódio, depois.
Há, porém, que recordar que Zita não é a única. Outros políticos fizeram o percurso ao contrário. É o caso de Helena Roseta que se passou do PSD para a ala mais esquerdista e radical do PS, ou de Miguel Portas que se passou do PCP para o Bloco de Esquerda.
Todas as pessoas têm o direito de mudar de ideias ou de práticas ao longo da vida. Todos temos esse direito. A liberdade dá-nos essa faculdade.
É importante que se reconheça que o Ser Humano é um algo em permanente mutação e que, até à morte, todos estamos em aprendizagem e desaprendizagem constante.
Acho uma completa arrogância, para não dizer estupidez, aqueles que dizem que já têm a sua própria personalidade porque já são adultos e que, por isso, não se deixam influênciar por nada, nem por ninguém.
Fico muito feliz pela Zita e já lhe enviei até um e-mail a parabenizá-la (como dizem os brasileiros) que ela muito simpaticamente me contestou, agradecendo.
Penso, porém, que na campanha do referendo, poderia ter sido mais incisiva. Já nos seus artigos na revista do Correio da Manhã chega a ser brilhante.
Como sempre, Zita, em qualquer estado da sua vida, sabe o que quer e sobre o que lutar. Faz-me lembrar S.Paulo, coerente e vigoroso na luta contra os cristãos, mas igualmente coerente e vigoroso, depois, na luta pela propagação do cristianismo.
Seria importante que todos fizessemos chegar à Zita, ela que tem sido alvo de tantas críticas, o nosso apoio e incentivo.
Força ZITA !!!

Educação Sexual


A SIC Noticias publicou na semana passada um excelente documentário com a chancela de qualidade da BBC. O tema era o acesso à pornografia na internet por parte dos adolescentes ingleses e a reportagem era feita pelo acompanhamento de 3 adolescentes britânicos.
Em todos eles o acesso à pornografia na net tinha-se tornado um vício; passavam horas na net em busca de material pornográfico. A situação tinha-se tornado patológica ou, melhor dito, obsessivo-compulsiva. O mais assustador é que eles diziam com convicção serem não a excepção, mas a regra.
Em concreto um dos rapazes que era bom aluno e aplicado passou a ser viciado depois de um amigo de escola o ter ridicularizado por nunca ter lá ido. A coisa tornou-se como uma droga, nas suas palavras, e as consequências foram desastrosas, desde logo, ao nível das notas.
Dos 3 adolescentes, 2 procuraram ajuda especializada respectivamente junto de uma Psicóloga e junto de um pastor evangélico. O 3º rapaz declarou-se orgulhoso de ver pornografia na internet e disse que iria fazê-lo até ao fim da sua vida, confessando já não conseguir passar sem ver várias horas de pornografia por dia.
A educação sexual (ou falta dela) continua a ser um tema tabu nas sociedades modernas. No caso dos adolescentes, sobretudo dos rapazes, e sobretudo naqueles que apresentam carências afectivas, o acesso à pornografia pela net causa graves danos quer na sua personalidade, quer na sua vida familiar e profissional ou estudantil.
Mas todos continuamos a fingir que está tudo bem, apesar de ser evidente que a história destes 3 adolescentes poderia perfeitamente ter ocorrido também em Portugal porque tudo isto é universal.
Educar para a vida sexual é educar para os afectos e inevitavelmente um maior auto-domínio. Se isso nem sempre acontece a culpa é dos educadores, mas sobretudo dos pais.
Queira Deus que não cometamos, nós como pais, os erros que outros já cometeram..

Cavaco Silva não leva Lei do Aborto ao TC


Durante a campanha eleitoral das últimas legislativas, o nosso actual Primeiro Ministro, a propósito dos ataques pessoais que Santana Lopes, de forma subliminar lhe andava a fazer disse uma coisa com a qual concordo totalmente. Disse que aquelas eleições eram algo de transitório, mas que o comportamento das pessoas ao achincalharem-no iria manter-se na memória como algo condenável, para além da própria memória daquelas eleições.
Assim o mesmo se pode dizer do comportamento interesseiro e indecoroso do nosso Presidente da República. Na ânsia de querer ser reeleito para um segundo mandato, prefere não "chatear" a esquerda e, desta forma, dá-lhe um presente, não levando a Lei do Aborto ao Tribunal Constitucional.
Espero que ele, daqui a muitos anos, quando já tiver reformado na sua casinha, se sinta muito satisfeito com o seu comportamento. Espero que os seus netos tenham muito orgulho no 2º mandato que ele irá certamente conseguir e se esqueçam do seu comportamento interesseiro e dos milhares de seres vivos inocentes que o seu avô permitiu que fossem chacinados.
Não lhe pedia que negasse os resultados do Referendo. Pedía-lhe apenas que fosse consequente com as suas próprias palavras e pressionasse, no mínimo, a que pudesse haver um aconselhamento obrigatório à candidata ao aborto.
É triste, muito triste.
Espero que este senhor possa dormir bem à noite. Da minha parte é que não leva mais o meu voto.
Espero que os charristas, os homossexuais e as prostitutas lho dêem...

A liberdade e a Beleza Americana


Como advogado tenho-me confrontado com algumas situações de divórcio, na qual uma das partes se “cansou” da outra e se cansou das rotinas próprias das organizações familiares. Estou a falar de pessoas já com vários anos de casados e até com vários filhos.
Lembro-me, em especial, do filme “A Beleza Americana”, de Sam Mendes que foi, na altura um grande sucesso por reflectir, de forma brilhante, os males e vícios das sociedades modernas ocidentais. Nesse filme, um pacato americano de classe média, perante a monotonia a que o seu casamento e a sua profissão tinham chegado, resolve dar o “grito do Ipiranga”, separa-se da mulher, tenta seduzir a melhor amiga da filha, despede-se, volta a fumar charros.
A este propósito, veio-me à cabeça uma outra obra, desta vez, literária, “A Cidadela” de Saint Exupery. Aí relata-se a história de uma cidadela composta por uma grande muralha que a rodeava e a protegia. A dada altura, vários habitantes optaram por dela sair, fartos dessa prisão, passaram a viver fora da cidadela, com isso, o elo de ligação quebrou-se, as muralhas tornaram-se, então, mais vulneráveis, os inimigos aproveitaram-se disso e houve grandes males onde antes havia harmonia e paz.
A nossa vida é caracterizada sempre por uma crise existencial permanente: ou se quebra o que se faz ou se mantém onde se está, aprofundando e enchendo de frutos o que já se está a fazer. A resposta para este dilema, por sua vez, fica algures entre a nossa vontade débil e o cumprimento dos apelos da responsabilidade.
Diz um Santo dos nossos tempos, S.José Maria Escrivá de Balaguer “Nada mais falso do que opor a liberdade à entrega, porque a entrega surge como consequência da liberdade. Reparem que, quando uma mãe se sacrifica por amor aos filhos, escolheu; e, segundo a medida desse amor, assim se manifestará a sua liberdade.”. E, por sua vez, o filósofo Joseph Ratzinger, na pele de Papa Bento XVI, fala-nos do EROS, enquanto atracção e da ÁGAPE que é a dádiva e a renúncia ao outro como consequência dessa mesma atracção.
O problema está quando exploramos apenas o EROS e recusamo-nos a avançar para a ÁGAPE, isto é, para a renúncia uma vez que toda a liberdade implica uma renúncia. Dizia, Miguel Esteves Cardoso que se sentia profundamente deprimido por entrar numa biblioteca e constatar que, embora quisesse, sabia que nunca conseguiria ler todos aqueles milhares de livros; assim como um homem pode-se sentir deprimido por não poder enamorar-se por muitas outras mulheres ou por morrer sem conhecer tantos outros sítios do mundo. Por isso, há que optar ou, direi antes, apostar. Porém, nem sempre temos a força suficiente para o fazer.
Não me posso esquecer, porém, da cena que para muitos exprime a essência do filme “A Beleza Americana”- o saco de plástico vazio que avança e recua, na rua, ao sabor do vento. Não será esse o símbolo de quem tudo e nada quer?
Esse vazio, essa ânsia por uma liberdade desenfreada leva, no fim do filme, a um resultado catastrófico. É bom pensar antes de tomar a decisão radical do que realmente queremos fazer da nossa vida.

PAra ler e, se conseguirmos, meditar


A propósito da Quaresma, escrito de D.JAvier Echevarria para ler e meditar até à Páscoa de tão rico que é.
Daremo-nos nós conta da riqueza que é o Cristianismo, a riqueza que é a loucura de alguém que se entrega contra si próprio e que ousa fazer tudo o contrário que os nossos instintos e má predisposições nos aconselham diariamente a fazer.
Aqui fica:


"Começámos a Quaresma, tempo forte liturgicamente, em que a Igreja nos convida a uma nova conversão. Todos precisamos desta mudança, ou seja, de rectificar com constância o rumo da vida para alcançarmos o nosso fim último: a posse e o gozo de Deus por toda a eternidade.

Contudo, sabemos por experiência que, enquanto caminhamos na Terra, podemos perder a direcção ou, pelo menos, desviar-nos da rota. Por isso temos de fazer os oportunos reajustamentos, com optimismo, como o avião ou o barco para chegarem ao seu destino.

Dizia o queridíssimo João Paulo II que todos os seres humanos, por estarmos in statu viatoris, na condição de caminhantes que se dirigem à pátria celestial, estamos também in statu conversionis em estado de conversão. Concluía daí que temos de viver em conversão permanente, e que este facto caracteriza profundamente a nossa peregrinação terrena (Cfr. Carta Enc. Dives in misericordia, 30-11-1980, nº 13). Mas, insisto, sempre cheios de alegria e de esperança, porque o Senhor nos aguarda.

A esta fidelidade nos anima a Quaresma, época especialmente adequada para nos esforçarmos com maior determinação na própria mudança pessoal, porque contamos com uma graça específica neste tempo litúrgico. Meditemos numas palavras de S. Josemaria. Entramos no tempo da Quaresma: tempo de penitência, de mortificação, de conversão. Não é tarefa fácil. O cristianismo não é um caminho cómodo; não basta estar na Igreja e deixar que os anos passem. Na nossa vida, na vida dos cristãos, a primeira conversão – esse momento único, que cada um de nós recorda, em que advertimos claramente tudo o que o Senhor nos pede – é importante, mas ainda mais importantes e mais difíceis são as conversões sucessivas. É preciso manter a alma jovem, invocar o Senhor, saber ouvir, descobrir o que corre mal, pedir perdão, para facilitarmos o trabalho da graça divina nessas sucessivas conversões (Cristo que passa, nº 57).

A Paixão e Morte do Senhor são o maior acto de amor, de completa entrega de Si, que se realizou e se poderá alguma vez realizar na História. O Filho de Deus faz-se homem e morre para nos livrar dos nossos pecados. Por isso, nestas semanas, o Santo Padre convida-nos a dirigir o nosso olhar com participação mais viva (…) para Cristo crucificado que, morrendo no Calvário, nos revelou plenamente o amor de Deus (Mensagem para a Quaresma de 2007, 21-11-2006).

A mesma recomendação nos fazia frequentemente S. Josemaria. Quantas vezes nos animava a pegar no crucifixo e a colocar-nos com valentia diante do Senhor, para ouvir o que Ele nos quiser dizer na Cruz! Meditemos, por exemplo, naquelas suas palavras: amo tanto Cristo na Cruz, que cada crucifixo é uma recriminação carinhosa do meu Deus: ... Eu sofrendo e tu esquecendo-Me. Eu pedindo-te e tu ... negando-Me. Eu, aqui, com gesto de Sacerdote Eterno, padecendo tudo o que posso por teu amor... e tu queixas-te ante a menor incompreensão, ante a humilhação mais pequena... (Via Sacra, XI estação, ponto 2). Vi-o beijar o Senhor crucificado com verdadeiro amor e com desejo de reparar.

Se, durante estes dias, nos pomos diante de Jesus Cristo crucificado com total sinceridade, não tardaremos a descobrir os pormenores concretos em que Ele espera que melhoremos. A verdade é que os ideais de santidade não podem ficar em fantasias, em desejos ineficazes, hão-de traduzir-se em propósitos concretos, numa luta interior bem determinada.

Talvez em determinadas alturas possamos descobrir que precisamos de fazer uma viragem radical na nossa actuação, porque os caminhos por onde andamos não nos aproximam de Deus. Outras vezes – e será o mais frequente – precisamos de melhorar em pontos que nunca são pequenos, se nos motiva o amor.

Seja como for, não esqueçamos que – como diz o Papa Bento XVI – esta conversão do coração é, antes de mais, um dom gratuito de Deus (…). Por isso, Ele mesmo antecipa com a Sua graça o nosso desejo e acompanha os nossos esforços de conversão. E o Papa acrescenta: Que significa realmente converter-se? Converter-se quer dizer procurar Deus, caminhar com Deus, seguir docilmente os ensinamentos do Seu Filho, de Jesus Cristo. Converter-se não é um esforço para se autorealizar, porque o ser humano não é o arquitecto do seu destino eterno (…). A conversão consiste em aceitar livremente e com amor que dependemos totalmente de Deus, o nosso verdadeiro Criador, que dependemos do Amor. Na realidade, não se trata de dependência mas de liberdade (Discurso na Audiência geral de Quarta-feira de Cinzas, 21-2-2007).

Em cada uma destas mudanças entram em jogo a chamada de Deus e a liberdade humana. Deus – o Amor por essência – entregou-se-nos liberrimamente em Jesus Cristo, e espera que nós nos abramos ao Seu Amor. Na Cruz é o próprio Deus que mendiga o amor da Sua criatura: Ele tem sede do amor de cada um de nós (Mensagem para a Quaresma de 2007, 21-11-2006), escreveu o Santo Padre mostrando como, na figura de Cristo cravado na Cruz, se fundem os dois aspectos da caritas: o amor de doação e o de posse.

Mais ainda: a revelação do eros de Deus ao homem (o Seu grande desejo de ser amado por nós) é, na realidade, a expressão suprema do Seu ágape (a Sua doação absoluta e incondicionada). Na verdade, só o amor no qual se unem o dom gratuito de si e o desejo apaixonado de reciprocidade infunde um enlevo que torna leves os sacrifícios mais pesados (Ibid).

Nestas palavras da sua mensagem quaresmal, Bento XVI oferece aos cristãos uma luz que nos pode ajudar muito durante estas semanas que desembocam na Páscoa. Procuremos aproveitá-la. Perguntemo-nos como estamos a corresponder pessoalmente, em cada dia, ao amor imenso e infinito de Deus por cada uma, por cada um, de modo concreto e eficaz.

As práticas próprias deste tempo litúrgico – oração, penitência, obras de caridade – podem concretizar o nosso esforço de conversão. Como nos vamos preparando para o Tríduo Pascal, com desejos santos de estar com Cristo, de sofrer com Cristo, de nos darmos com Cristo? Ele o quer e nos pede que, também na Sua Paixão, O acompanhemos.

Talvez possamos cuidar com mais carinho alguma norma de piedade (a oração, a Santa Missa, o Terço). Talvez possamos aumentar o oferecimento de pequenas mortificações, em que se manifesta o espírito de penitência: por exemplo, fazer com a maior perfeição possível um aspecto particularmente custoso da tarefa que nos ocupa; acolher com boa disposição quem recorre a nós à procura de um conselho ou de uma ajuda; esmerar-nos em servir as pessoas com quem nos relacionamos mais; pôr na comida e na bebida o ingrediente de uma pequena mortificação que nos ajude a viver esses momentos na presença de Deus. S Josemaria costumava recomendar uma que está ao alcance de todos: comer um bocadinho mais do que gostamos menos e um bocadinho menos do que gostamos mais. Filhas e filhos meus, temos bem presente que não há cristianismo, vida cristã pessoal sem Cruz? O amor à Cruz orienta os teus dias?

Como a oração e a mortificação são colunas sobre as quais se levanta a actuação do cristão, ao concretizar por esse caminho o desejo de uma nova conversão, encontraremos formas muito variadas de melhorar na prática da caridade fraterna: desde a atenção material a quem dela necessita até ao conselho capaz de abrir a outras pessoas horizontes novos, na luta por serem bons cristãos. Neste sentido, não esqueçamos a importância do apostolado da Confissão, intensifiquemo-lo nesta Quaresma, de modo a que muitas pessoas cheguem às festas pascais depois de, bem preparadas, terem recorrido ao sacramento da misericórdia divina.

Dou-vos mais um conselho, seguindo as palavras do Santo Padre na Quarta-feira de Cinzas: esmeremo-nos em cultivar um intenso espírito de recolhimento e de reflexão (Discurso na Audiência geral de Quarta-feira de Cinzas, 21-2-2007). Com efeito, é este o clima em que amadurecem as verdadeiras conversões. Por isso, procuremos aumentar a presença de Deus ao longo do dia, servindo-nos talvez de alguma jaculatória especialmente adequada às nossas circunstâncias individuais: a Liturgia oferece-nos muitas durante estes dias. E esforcemo-nos por fazer bem o exame de consciência quotidiano. Esses minutos de reflexão, a sós com Deus cada um de nós, são um excelente ponto de arranque como uma mola que nos deve impulsionar – com as luzes e as forças que o Senhor nos conceder – à séria mudança no dia seguinte.

A responsabilidade da educação

Nos últimos dias, ao constatar de forma mais brutal a sociedade em que vivemos, tenho vindo a sentir, em particular, o peso da responsabilidade da tarefa que me cabe como pai de educar os meus filhos.
Eles serão aquilo que eu lhes ensinar, mas também aquilo que constatem que eu sou e faço.
Lembro-me de um amigo que todos os Domingos ía à Missa à prisão com os filhos todos e, no final, ía visitar com eles um dos presos. Foi sempre uma imagem que me seduz essa do mostrar-lhes a miseria humana em que todos nós podemos cair se não tivermos cabecinha, embora reconheça que se trata de um método pouco ortodoxo.
Tentar gastar mais tempo com eles; mostrar-me mais cumplice e fraterno; educá-los para a liberdade usada com responsabilidade; mostrar-lhes os meus defeitos para que os tentem evitar; transmitir-lhes o que já passei para que (do mau) não tenham que passar pelo mesmo.
Ainda assim sei que qualquer percurso humano necessariamente passa sempre pelo sofrimento, pela queda e pelo erro. Gostaria que eles não tivessem que passar por isso para poderem aprender e serem melhores como pessoas, mas sei que isso é humanamente impossível. Ninguém vive sem fazer asneiras e sem sofrer com as asneiras que faz.
Enfim, será uma aventura e, se calhar, uma lotaria...

Algarve Pela vida


A minha experiência no Grupo Algarve pela Vida que durou sensívelmente de início de Novembro até há poucas semanas atrás foi muito enriquecedora do ponto de vista humano.
As decepções que se apanharam, a mesquinhez humana, mas também os exemplos de heróismo desinteressado, a dedicação por uma causa tão nobre, a obsessão pela salvação de vidas inocentes e o peso da responsabilidade.
Daqui a mais uns tempos, conto registar mais em pormenor tudo pelo que passei.
Senti-me um verdadeiro Frodo que andava na minha vidinha no Shire e que, de repente, se vê envolvido no meio de cavaleiros, ogres, sofrimento, dor, traição, e, sobretudo, muita maldade. Uma maldade que nos é imanente a todos nós, que está dentro de nós e nos seduz, como a força do anel seduzia o Frodo; mas também uma maldade protagonizada por pessoas que, por força do seu percurso pessoal, não hesitam em considerar que um ser humano em gestação é apenas uma "coisa" que se pode descartar em nome de uma melhor qualidade de vida.
Eliminar uma vida humana pela culpa da irresponsabilidade de uma outra vida humana.
Mas, o mais grave de tudo ainda, é estupidez daqueles que poderiam ajudar quem precisa e cuja ânsia de protagonismo e falta de humildade é tal que prejudicam a solidariedade que todas essas mulheres grávidas angustiadas deveriam usufruir.
Felizmente que ainda há muitas associações como a Ajuda de Mãe, Ajuda de Berço, ADAV, etc. que dão um exemplo do que é e se pode fazer pela vida.

Ser Reformado


Portugal, na linha, aliás, do que se passa no resto da Europa é um dos países onde há um elevado número de idosos, sendo que muitos destes idosos estão já reformados.
O que é ser reformado? É ter “arrumado as botas” e aguardar que a doença e a morte apareça? Ou é um período excelente da vida que há que aproveitar ao máximo?
Como imaginam, para mim, a resposta está na segunda opção.
Desde logo, quem é reformado tem logo a seu favor um facto positivo: Se se está reformado é porque se chegou a essa idade vivo. Logo, oxalá todos nós conseguíssemos chegar à idade da reforma porque isso seria sinal de que estaríamos de saúde e vivos.
Na reforma, a meu ver, haverá 2 fases. Uma em que, porque a idade e a saúde ainda o permite, o reformado está ainda activo e outra, em que, pelas razões contrárias, o reformado está numa posição de maior dependência de terceiros.
Ainda assim, parece-me que a maioria dos reformados se encontram ainda na fase de actividade. E o que fazer nessa fase?
Antes demais, considero que essa fase é uma grande oportunidade para fazer coisas que, durante o tempo de trabalho e de vida profissional, não se tem tempo para fazer. É uma excelente oportunidade para se poder estar mais próximo da família e apoiá-la, e em particular os netinhos que já existam; de passear (veja-se os programas do INATEL e outros do género) e participar em actividades lúdicas (veja-se o caso do Chá dançante aqui em S.Brás de Alportel).
Mas, é também, a meu ver, uma excelente oportunidade para se poder trabalhar e dedicar tempo a outras coisas diferentes. Estou-me a lembrar, em especial, do apoio, em regime de voluntariado ou não, a associações de defesa do ambiente, do consumidor, de natureza sócio-caritativa, educativas, promoção do desporto, etc...
Muitas dessas associações só conseguem avançar e realizar actividades se tiverem alguém que se dedique com maior disponibilidade e uma pessoa reformada tem certamente esse perfil. E, mais o terá ainda, se puder utilizar as qualificações e a sua experiência de vida, colocando-as ao serviço de uma causa nobre.
Gostaria de vos contar em particular a história do Sr. Vivas que tive a honra de conhecer na fase final da sua vida. Era um homem que se tinha destacado por ser um excelente gestor, ligado ao ramo dos transportes. Um dia decidiu reformar-se quando tinha cerca de 60 e tal anos. Nessa altura, cruzou-se com uma pessoa aqui do país vizinho, de forte carisma e personalidade, a quem perguntou se achava que ele se deveria retirar definitivamente, ao que essa pessoa lhe respondeu “se retiran los vencidos”.
Aquela resposta bateu-lhe tão fundo e sensibilizou-o de tal maneira que o nosso amigo Sr. Vivas fez o seguinte: deserdou-se, partilhando em vida com os filhos a totalidade dos seus bens, evitando, desta forma, que, após a sua morte, aqueles andassem às turras por causa da herança; ficou apenas com um casita pequena, uma conta bancária suficiente para as despesas correntes e um carrito utilitário.
Este homem depois de se “deserdar” fundou uma cooperativa educativa na área da agricultura e esteve na origem de cerca de 6 casas-escolas agrícolas, actualmente espalhadas pelo país. E fez tudo isso entre os 65 e os 95 anos.
Achei particularmente impressionante ter-me encontrado com ele uns meses antes do seu falecimento e o ter constatado o seu entusiasmo, fazendo planos de actividades para os anos seguintes. Tratava-se de uma pessoa com um espírito profundamente juvenil e, apesar da sua fragilidade física, de um dinamismo impressionante.
Assim, faço daqui um apelo a todos os reformados de boa saúde que estejam a ler este artigo. Esse vosso período da vida é uma grande riqueza ! Não o desperdicem ! Há quem precise do vosso tempo e da vossa ajuda em associações, colectividades, etc.. Essa é também uma forma de se sentirem úteis para a comunidade, contribuindo para o seu enriquecimento em áreas onde a maioria das pessoas, por falta de tempo, não podem colaborar.
Em particular, aqui em S.Brás, há muitas associações onde colaborar. Aproveitem !

Mesquinhez

Infelizmente trabalhar em grupo, às vezes, traz-nos alguns dissabores. Sabemos que até o marido e a mulher discutem entre si, quanto mais pessoas que trabalham em grupos de natureza política, religiosa ou social, ainda que comunguem dos mesmos valores e ideais.
O que é mais degradante é haver pessoas que acabam por revelar as suas reais intenções que, afinal, se traduzem em ânsias de protagonismo.
Pessoalmente sou contra protagonismos. Acho que o ideal é trabalhar, de preferência, com o máximo de discrição possível. Que se veja o resultado, sem que se veja necessariamente o seu autor que nada mais é senão um instrumento ao serviço desse mesmo resultado.
Não me dou muito bem com auto-elogios e acho degradante o uso de alguém ou de algo só para se sobressair ou para que alguém venha e nos dê umas palmadinhas nas costas e diga "sim senhor, você é uma pessoa espectacular".
Valha-nos e Livre-nos Deus Nosso Senhor da Soberba estúpida de nós próprios...

quinta-feira, 8 de março de 2007



Infelizmente, isto agora vai passar a ser frequente...

Referendo: Um balanço

A vitória anunciada e antecipada do “sim” leva-nos a fazer, entretanto, um balanço sobre o que, a meu ver, foi o lado positivo e o negativo deste referendo, ainda que o faça, assumindo a minha qualidade de mandatário do Grupo Cívico “Algarve pela Vida”.
Positivo, penso que foi toda a mobilização da sociedade civil, em especial dos entusiastas pelo “sim” e pelo “não que, com grande entusiasmo e motivação lutaram pelas suas causas, muitas vezes, com sacrifícios das suas vidas pessoais, familiares e profissionais.
Positivo, foi igualmente o facto de se ter discutido, na rádio, nas tvs, nos jornais, em debates nos mais variados e recônditos, sítios um problema “silencioso” que existia, existe e que, infelizmente, vai continuar a existir, uma vez que após as 10 semanas o aborto vai continuar a ser crime para a mulher que o praticar.
Positivo, em concreto aqui no Algarve, não posso deixar também de considerar o grupo de activistas que fizeram parte do movimento “Algarve pela Vida”. Foi um grupo muito heterogéneo, composto por pessoas dos mais diversos partidos CDS/PP, PSD e até PS e por pessoas de convicções religiosas diferentes, católicas, evangélicas e até não crentes. Todas unidas pela convicção de que a vida é um bem supremo e que todos, em conjunto, poderíamos apoiar o seu crescimento em ambientes familiares e económicos adversos, fazendo-a florescer e desabrochar de forma bem sucedida.
Negativo, foi sem dúvida a atitude pouco democrática manifestada por muitos adeptos do “sim” que promoveram actos de vandalismo contra os cartazes e faixas do nosso movimento, ora danificando-os, ora fazendo-os desaparecer. Isto já para não falar na atitude de vários agentes da administração pública algarvia que, no pleno exercício das suas funções, procuraram fazer campanha pelo “sim” sem olhar a meios. Em particular, o mais grave foi o da Coordenadora da sub-região de Saúde de Faro, Lurdes Guerreiro que enviou, através do correio electrónico da Administração Regional de Saúde do Algarve uma mensagem apelando ao voto e sugerindo que todos os funcionários, médicos e enfermeiros dos centros de saúde subscrevessem um texto de apoio incondicional ao aborto livre. A gravidade da situação, aliás, levou a que a Comissão Nacional de Eleições tivesse já remetido o assunto para o Ministério Público de Faro.
Negativa foi a excessiva governamentalização da campanha e a chantagem inadmissível do primeiro-ministro José Sócrates que, repudiando uma proposta alternativa de despenalização total do aborto apresentada pelo movimento “Independentes pelo não” e apoiada pelo PSD, optou por insistir numa pergunta enganadora e que vai manter o problema do aborto clandestino e da penalização das mulheres para além das 10 semanas, fugindo de verdadeiras opções de apoio à mulher porque essas implicam despesa e aumentariam o déficit do Orçamento de Estado.
Positivo foi o comportamento da Rádio Renascença que assumindo editorialmente o seu apoio ao “não”, depois, durante a campanha, manteve um pluralismo exemplar, divulgando com frequência as posições e actividades dos partidários do “sim” e ainda, a nível local, o pluralismo manifestado pelo “NOTICIAS DE S.BRÁS” que, sem nenhum tipo de censura ou reparo, publicou vários artigos a favor do sim e do não.
Infelizmente, o mesmo já não posso dizer de uma parte da comunicação social privada quer nacional, quer regional que, de forma indecorosa e manifesta, promoveu uma autêntica campanha a favor do “sim”. Por uma questão de honestidade intelectual deveriam ter assumido a mesma postura da Rádio Renascença e declarado a sua posição oficial, em vez de fingirem que eram pluralistas quando os seus noticiários e programas revelavam precisamente o contrário. Só a título de exemplo, menciono aqui um semanário regional algarvio onde contabilizei, nada mais, nada menos do que 4 noticias pelo “sim” e apenas meia noticia do “não”, com uma breve referência fugaz, a propósito de um debate onde todo o destaque era dado à parte contrária.
Estes episódios sirvaram para reforçar ainda mais a minha já anterior convicção de que estamos muito longe da Democracia pluralista e humanista que era suposto ter resultado do 25 de Abril.
Quanto ao futuro, resta-nos esperar e desejar que o egoísmo e utilitarismo que grassa pela Europa Ocidental ao qual agora aderimos não nos leve à carnificina do aumento progressivo de abortos “por dá cá aquela palha”.

ESTOU DE VOLTA

Amigos,
Estou de volta.
A campanha pelo "não" no Algarve pela Vida e, sobretudo, o facto de (qual cabeça no ar), ter perdido as senhas de acesso ao meu próprio blog, fez com que durante alguns meses isto tenha estado paradinho.
I'm Backkkkkkkkkkk