O Governo PSD/PP tem vindo a
dizer-nos que, mais importante do que injetar capital na economia e nas
empresas (capital que o Estado não tem tem, diga-se), é apostar em reformas
estruturais.
Para o governo estas reformas estruturais devem
observar dois requisitos: reduzir os custos e aumentar ou, pelo menos,
facilitar a produtividade ou operacionalizar melhor a atividade económica.
Eu diria, porém, que uma reforma ainda mais audaz e
corajosa, além das estruturais, passaria pela reforma das mentalidades, em
particular, na área laboral.
Há uns meses atrás uma equipa de um canal de tv
nipónico veio a Portugal para fazer uma reportagem sobre o resgate da Troika. O
jornalista foi, por sua vez, entrevistado por um canal português e dizia que
uma das coisas que mais o surpreendeu foram as manifestações dos trabalhadores
à porta dos locais de trabalho ou na via pública. Esta, dizia, é uma realidade
impensável no Japão e explicou. No Japão, o patrão sente uma enorme
responsabilidade não só pelo sucesso da sua empresa, mas também pelos
trabalhadores e as suas famílias. Quando a sua empresa tem sucesso, não é só o
patrão que tem sucesso, são todos os seus trabalhadores que actuam como um
todo, quase como uma família. Por outro lado, os trabalhadores sentem também a
responsabilidade do seu contributo para o êxito da empresa e daí que se
esforçam por manter altos indíces de produtividade e assiduidade. O fracasso
laboral quer por parte do patrão, quer por parte do empregado podem inclusive,
em casos extremos, levar a situações de
suicidio, o famoso Hara-Kiri.
Ao contrário do que se vê em Portugal e em outros
países, no Japão não há uma lógica do patrão explorador que tenta “chupar o
sangue e devorar a carne” dos seus trabalhadores para, deste modo, poder
aumentar ainda mais a sua riqueza e o seu lucro ganancioso, nem há a lógica dos
trabalhadores que se sentem a escória deste mundo, oprimidos e amargurados,
reclamando mais salário, menos tempo de trabalho, menos pressão para atingirem
objectivos e serem mais produtivos à custa da sua vida pessoal. Esta lógica é
completamente absurda e estúpida. Só um patrão imbecil ou uns trabalhadores
ideologicamente fanáticos é que poderão achar que essa lógica de conflito e
guerrilha trará, a longo prazo, alguma vez eficácia ou riqueza.
Na linha do que se passa no Japão, há uma corrente na
área da gestão de empresas que felizmente tem vindo a ganhar adeptos sobretudo
em escolas de MBA e pós-graduação, tais como a IESE em Espanha, a AESE em
Portugal, Georgetown, nos EUA, entre outras, segundo a qual a lógica
inteligente de lidar com a relação laboral passa pela mentalização de que o seu
maior activo é o factor humano, isto é, a sua força de trabalho e que esta tem
de estar motivada e em sintonia com o bater do coração da empresa, os seus
sucessos, os seus fracassos, as suas perspectivas, etc..E, nesta linha, a informação
períodica, a promoção de atividades extra-laborais de carácter lúdico ou
sócio-caritativo, ou a participação nos lucros da empresa são elementos que
contribuem para que o trabalhador sinta que não é uma mera peça de uma
engrenagem e que se reconheça a importância recíproca uns dos outros.
Emilio Duró, um dos mais
brilhantes e talentosos especialistas em matéria de formação (vale a pena ver
no Youtube algumas das suas conferências) para a motivação de recursos humanos
vai mais longe e diz mesmo que um trabalhador deve ter tempo para a sua
família, deve apostar na estabilidade familiar, emocional e pessoal porque isso
favorece a empresa e, desta forma, patrão e empregados funcionam como uma
simbiose. Alguém que está bem consigo, torna a empresa melhor.
Quando é que perdemos, pois, a
mentalidade parola das guerrinhas laborais e apostamos numa visão mais integral
onde o factor humano esteja no centro e seja finalidade da atividade das
empresas ?
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