terça-feira, 8 de maio de 2012

Da estupidez laboral


            O Governo PSD/PP tem vindo a dizer-nos que, mais importante do que injetar capital na economia e nas empresas (capital que o Estado não tem tem, diga-se), é apostar em reformas estruturais.            

Para o governo estas reformas estruturais devem observar dois requisitos: reduzir os custos e aumentar ou, pelo menos, facilitar a produtividade ou operacionalizar melhor a atividade económica.

Eu diria, porém, que uma reforma ainda mais audaz e corajosa, além das estruturais, passaria pela reforma das mentalidades, em particular, na área laboral.

Há uns meses atrás uma equipa de um canal de tv nipónico veio a Portugal para fazer uma reportagem sobre o resgate da Troika. O jornalista foi, por sua vez, entrevistado por um canal português e dizia que uma das coisas que mais o surpreendeu foram as manifestações dos trabalhadores à porta dos locais de trabalho ou na via pública. Esta, dizia, é uma realidade impensável no Japão e explicou. No Japão, o patrão sente uma enorme responsabilidade não só pelo sucesso da sua empresa, mas também pelos trabalhadores e as suas famílias. Quando a sua empresa tem sucesso, não é só o patrão que tem sucesso, são todos os seus trabalhadores que actuam como um todo, quase como uma família. Por outro lado, os trabalhadores sentem também a responsabilidade do seu contributo para o êxito da empresa e daí que se esforçam por manter altos indíces de produtividade e assiduidade. O fracasso laboral quer por parte do patrão, quer por parte do empregado podem inclusive, em casos extremos,  levar a situações de suicidio, o famoso Hara-Kiri.

Ao contrário do que se vê em Portugal e em outros países, no Japão não há uma lógica do patrão explorador que tenta “chupar o sangue e devorar a carne” dos seus trabalhadores para, deste modo, poder aumentar ainda mais a sua riqueza e o seu lucro ganancioso, nem há a lógica dos trabalhadores que se sentem a escória deste mundo, oprimidos e amargurados, reclamando mais salário, menos tempo de trabalho, menos pressão para atingirem objectivos e serem mais produtivos à custa da sua vida pessoal. Esta lógica é completamente absurda e estúpida. Só um patrão imbecil ou uns trabalhadores ideologicamente fanáticos é que poderão achar que essa lógica de conflito e guerrilha trará, a longo prazo, alguma vez eficácia ou riqueza.

Na linha do que se passa no Japão, há uma corrente na área da gestão de empresas que felizmente tem vindo a ganhar adeptos sobretudo em escolas de MBA e pós-graduação, tais como a IESE em Espanha, a AESE em Portugal, Georgetown, nos EUA, entre outras, segundo a qual a lógica inteligente de lidar com a relação laboral passa pela mentalização de que o seu maior activo é o factor humano, isto é, a sua força de trabalho e que esta tem de estar motivada e em sintonia com o bater do coração da empresa, os seus sucessos, os seus fracassos, as suas perspectivas, etc..E, nesta linha, a informação períodica, a promoção de atividades extra-laborais de carácter lúdico ou sócio-caritativo, ou a participação nos lucros da empresa são elementos que contribuem para que o trabalhador sinta que não é uma mera peça de uma engrenagem e que se reconheça a importância recíproca uns dos outros.

Emilio Duró, um dos mais brilhantes e talentosos especialistas em matéria de formação (vale a pena ver no Youtube algumas das suas conferências) para a motivação de recursos humanos vai mais longe e diz mesmo que um trabalhador deve ter tempo para a sua família, deve apostar na estabilidade familiar, emocional e pessoal porque isso favorece a empresa e, desta forma, patrão e empregados funcionam como uma simbiose. Alguém que está bem consigo, torna a empresa melhor.

            Quando é que perdemos, pois, a mentalidade parola das guerrinhas laborais e apostamos numa visão mais integral onde o factor humano esteja no centro e seja finalidade da atividade das empresas ? 

Sem comentários: