domingo, 8 de novembro de 2009

Crepúsculo


A Trilogia da autoria de Stephenie Meyer “Crepúsculo”, “Lua Nova” e “Amanhecer” têm feito as delícias das adolescentes. Trata-se de um fénomeno global de quase histeria colectiva que leva a comportamentos de verdadeira obsessão.
O que tem essa trilogia de tão especial que atraí tanto as adolescentes ? A questão tem o seu quê de interessante se levarmos em consideração que uma das características mais vincadas tanto da actual como das anteriores gerações de adolescentes residia precisamente no total e absoluto desinteresse seja pelo que for. Então porquê o interesse por estes livros ?
Uma das explicações reside na originalidade do argumento e no facto da autoria Stephenie Meyer demonstrar ser uma profunda conhecedora da psicologia feminina com todas as suas contradições e mudanças bruscas de disposição. Quanto ao argumento, os livros abordam a história de uma família de vampiros, os Cullen, que estão totalmente integrados na sociedade. Os mais velhos têm profissões e os mais novos frequentam a escola secundária da zona. Estes vampiros, ao contrário dos habituais, são vampiros bons já que apenas se alimentam de sangue de animais, o que não quer dizer que num momento de maior tentação não o possam fazer também relativamente aos humanos. E é neste contexto que surge a paixão entre um dos vampiros mais novos, Edward e uma adolescente vulnerável e solitária da terra, Bella, filha de pais divorciados.
Stephenie Meyer é uma cristã mormon e, por isso, muitos dos conceitos defendidos pelo cristianismo estão subjacentes no argumento dos seus livros. O conceito de família que se une, em volta de um objectivo comum, o de apoiar um dos seus membros em dificuldade “A minha família não é deste mundo, mas existe no outro, no seu mundo”. Veja-se por exemplo como os Cullen criam um circulo à roda de Bella, quando inesperadamente surgem 3 dos vampiros maus..Também está subjacente uma critica social, quando Edward, usando os seus poderes, diz a Bella que, naquele restaurante, à excepção de uma senhora que estava preocupada com o seu gato, todos os outros estão apenas preocupados com 2 valores: sexo e dinheiro. Destaque-se também a necessidade imperiosa que Edward tem e assume de viver a abstinência no seu namoro com Bella de forma a garantir que não lhe fará mal, transformando-a também em vampiro. Logo aqui, Edward é diferente dos outros. A maioria dos adolescentes procuram consumar o namoro, iniciando as relações sexuais com a sua namorada o mais rapidamente possível, chegando ao ponto de exigir isso como suposta prova de amor. Edward, pelo contrário, inspira e deleita-se com Bella (por ex. o ficar horas só a vê-la dormir), sem ter necessariamente que consumar essa sedução com um acto sexual; é uma possessão interior e platónica que reforça os laços entre ambos; uma espécie de erotismo sublimado.
A Edward é lhe pedido que se auto-controle, assim como a Frodo, do Senhor dos Anéis, é lhe pedido que não se deixe seduzir pelos poderes do anel. Em ambos o auto-controle é o caminho para a felicidade e só se atinge se se seguir o caminho do amor. No caso de Frodo, o amor pelos amigos e pelo seu povo, no caso de Edward, o amor por Bella. Amor esse que é o único caminho de salvação. Diz Bella, parafraseando uma expressão que igualmente se encontra no evangelho, “Para onde é que eu haveria de ir” senão para onde está o amor ? A paixão levada às últimas consequências, se necessário, à morte “Tu és, agora, a minha vida”, diz Bella, enquanto lhe oferece o pescoço para que ele a morda, ao que ele responde com um doce e suave beijo. A paixão é vivida como uma troca de vazios onde um vazio enche o vazio do outro e ao fazê-lo, enche em simultâneo o seu próprio vazio. Estas cenas lembraram-me também as músicas dos Tokio Hotel, “Heilig (amor sagrado) e Totgeliebt (amor de morte) ambas igualmente veneradas pelas adolescentes. E a conclusão que tiro disto tudo é que apesar do aspecto, por vezes, hirto, seco e vazio de alguns adolescentes reside, lá no fundo, um verdadeiro desejo de romantismo e idealismo e até de utopia que, nós, adultos, infelizmente já há muito tempo perdemos.

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