Nas últimas semanas têm vindo a público uma série de reacções provenientes de destacadas personalidades da sociedade civil a denunciar o beco em que Portugal se encontra. Já não falo de João César das Neves, nas suas crónicas de 2ª feira no DN, de Vasco Graça Moura nas suas colunas de opinião do “Público” ou de Medina Carreira, nas suas entrevistas na SIC, a denunciar “o nojo” da classe política. Falo de pessoas como José António Saraiva, director do semanário “Sol” que denunciou as graves ingerências do governo nos media; falo de Ernani Lopes que alerta para um “país semi-desenvolvido” ou “semi-morto”, em “década vazia”, onde as pessoas querem é “enriquecer de qualquer maneira e depressa”; falo de António Barreto, antigo activista do PS que denuncia a crise ética e de valores ou do sindicato dos Juízes que alerta para a inépcia dos processos cíveis.
Entretanto, sobretudo na escola e na justiça, somam-se os fracassos. Parece que há uma crise generalizada de bom senso. Cometem-se disparates, incorrem-se em erros que seriam evitáveis. Na Justiça a situação agrava-se. O governo PS para tentar reduzir a pressão sobre os tribunais aumentou escandalosamente os valores das taxas e custas judiciais; processos de cobrança de dívidas ou despejos por falta de pagamento de rendas arrastam-se em tribunal, cada vez com mais tempo a passar e mais despesas por pagar. O Estado entra em degenerescência. Perante a ineficácia e a dificuldade no acesso aos tribunais, aumenta o número de pessoas, senhorios e credores, a fazer justiça por mãos próprias, a recorrer às cobranças difíceis, aumentam os casos de agressões e ameaças, inclusive sobre os próprios advogados, aumenta o número de pessoas que pede licença de porte e uso de armas de fogo. Na escola sobrecarregam-se os professores e as escolas com funções e burocracias que estão muito para além das suas possibilidades. Aumenta a insegurança nas escolas e nas ruas. Aposta-se na promoção do aborto e do divórcio como forma de exaltação da individualidade em detrimento da alteridade.
E o povo? Onde fica, no meio disto tudo? A estratégia é clara. Adormecer a opinião pública, dividir para reinar. Transformar os adolescentes em vegetais que se consomem em horas seguidas de playstation ou se perdem nos gritos de uma discoteca, anestesiados pelo alcóol e pelo consumo de alucinógeneos enquanto os adultos se deixam consumir pela voragem escrava da sua actividade profissional enunca têm tempo para nada.
Perante este panorama e o descrédito generalizado da política e dos políticos, os poucos eleitores que votam preferem alguém que engane, que fale bem, que crie e venda ilusões. Tudo é preferível do que enfrentar a realidade. A memória é curta. Perante escandalos e fracassos, encolhem os ombros e conformados votam em mais do mesmo. Enquanto os media distraem, cá fora, vai-se vivendo um mundo, um mundo cão.
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