Padre Júlio Tropa
No passado dia 25 de Janeiro, faleceu em Faro o Padre Júlio Tropa, pároco de Estói e Sta Bárbara de Nexe. Tal como se esperava, o seu funeral foi invadido por um mar de gente que enchia a Igreja, o adro e as ruas adjacentes. Essas pessoas conheciam bem o Padre Júlio, cada uma delas teria certamente muitas histórias concretas para contar, histórias de proximidade em que o Padre Júlio sempre surgia como um amigo, mais do que como “o pároco”. Tinha uma enorme capacidade de acolhimento.
No dia do seu funeral, o seu povo estava na rua e foi lá que o Padre Júlio sempre o encontrou. O Papa João Paulo II dizia "O homem é o caminho da Igreja" e foi isso que o Padre Júlio fez, conviveu, almoçou, jantou, confidenciou, ajudou, reconciliou, acolheu, sorriu, bebeu, comeu, ouviu com todos os que ali estavam. Dava-se aos outros e, por isso, conquistava facilmente todos quantos com ele se relacionavam.
Foi para a rua, para o meio da rua. Não se conteve à sacristia da sua Igreja, nem muito menos a um clericalismo balofo. Foi à vida, ao encontro das pessoas aí onde elas estão, no seu trabalho, na sua casa, no meio da sua família, se alguém estava desempregada procurava arranjar-lhe trabalho; se alguém estava sem lar ou creche para um familiar, arranjava uma vaga; procurava reconciliar casais desavindos e quando não estava a ajudar alguém, estava a convencer alguém a ajudar o próximo. Ninguém poderia ficar parado.
O Padre Júlio era simultâneamente um activista que não parava quieto e ao mesmo tempo alguém bafejado pelo dom da mansidão e da paz, sempre tranquilo, com um sorriso nos lábios, mesmo no meio das maiores tribulações e dificuldades. Se o dia tivesse 72 horas, ainda assim, não lhe chegaria para tratar de todos os assuntos não só relacionados com as actividades sociais onde estava envolvido, mas também no acompanhamento às pessoas e às famílias.
Também eu tenho algumas histórias engraçadas que se passaram comigo. Quando se cruzava comigo, dizia sempre o mesmo que provavelmente diria a tantas outras pessoas “Miguel, preciso de ti”. Lembro-me, em particular, há um par de anos atrás, ele ter-me telefonado a meio da manhã a pedir-me um favor. Disse-lhe que estava a trabalhar, em casa, num assunto de tribunal e que, naquele dia, não me dava muito jeito ir ao seu encontro. Respondeu-me logo, “então se não te importares vou aí a tua casa”. Era assim despachado, pragmático e eficaz. É claro que lhe disse que sim e quando chegou vi que, afinal, o favor não era para ele mas para uma outra pessoa que ele estava, nesse momento, a ajudar.
Dele recordo também o conselho que me deu, a propósito do meu casamento, parafraseando que procurasse cuidar sempre o “sacramento das pequenas coisas”
Era também conhecido por facilitar o acesso aos sacramentos, dispensando inclusive os chamados cursos de preparação, embora não o fizesse como regra, mas por excepção.
O padre Júlio era filho único e não deixou praticamente familia natural mas, como disse o Senhor Bispo do Algarve, na missa fúnebre, deixou uma enorme familia adoptiva. No final do funeral, notava-se o carinho das mulheres de Sta Bárbara que, de forma determinada, pegaram nas dezenas de ramos de flores que estavam no adro da Igreja, e em fila, cada uma levando o seu ramo, acompanharam o cortejo. Também chamou à atenção o pormenor dos muitos balões brancos lançados pelo grupo de jovens da sua paróquia. À medida que o caixão descia de volta à terra, os balões subiam na diagonal em direcção ao Céu. Estava tudo dito.
Não foi um funeral piegas. Foi um funeral, com fado, música, a sua preferida ("Deus de Amor"), poemas e um piropo muito bem escrito por uma representante dos seus paroquianos.
No Céu, o padre Júlio intercederá certamente quer pelo bom sucesso das suas obras sociais, quer pela felicidade daqueles que baptizou, crismou e casou.
Artigo publicado na edição de Fevereiro do "Noticias de S.Brás"
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