Num
dos seus artigos no semanário “Expresso”, um dos gestores mais brilhantes de Portugal,
António Carrapatoso, defendia a introdução obrigatória de aulas de gestão no
ensino. Dizia ele que, através do recurso ao método do “caso” e pela transmissão
de alguns princípios elementares de gestão, os estudantes estariam a adquirir
competências na área da gestão que lhes seriam muito úteis para o futuro.
O
problema desta sugestão é que ela
lançaria à escola e aos professores mais um desafio e mais um encargo a
somar a todos os outros. Educar para os media, educar para o desporto, educação
sexual, educar para a arte, educar para a defesa do ambiente, etc, etc. No
entanto, a meu ver, uma boa integração e organização curricular permitiram
perfeitamente ultrapassar este problema.
Gerir
a economia pessoal e doméstica, gerir a sua carreira, gerir o seu tempo, gerir
a sua empresa, gerir as suas relações humanas, etc.etc. tudo isto implica saber
gerir e saber gerir bem está inevitavelmente associado às virtudes da prudência
e do elementar bom senso.
Saber
gerir o risco, não arriscando demasiado sem uma garantia de reserva, no caso da
aposta sair gorada; saber gerir as poupanças; saber gerir os investimentos,
apostando nos estudos e avaliação dos mercados potenciais; saber gerir os
recursos humanos e materiais, aligeirando os custos para poder oferecer um
produto mais atractivo e competitivo; não estar demasiado depentende de um
determinado cliente ou de um determinado nicho de mercado; ter planos alternativos
de redução de custos ou de apostas em outras áreas de investimento alternativas
potencialmente mais promissoras; saber adaptar-se às constantes e permanentes
alterações e necessidades do mercado, mas também saber escolher o local das
férias, tendo em conta os encargos mensais de todo o ano, saber escolher a
escola dos filhos e a forma destes ocuparem os tempos livres; saber gerir a
relação com o parceiro, exigindo de umas vezes e cedendo em outras etc.etc.etc.
Não
deixa de ser interessante que o próprio Jesus Cristo em muitas das suas
parábolas evangélicas se refira a actos e princípios de gestão
micro-economicos: a forma como as virgens prudentes e imprudentes geriam o óleo
das lamparinas do casamento, a forma como os trabalhadores geriam as moedas que
o seu patrão lhes deu antes de partir de viagem: a forma como o pastor gere a
perda de uma ovelha, a forma como o latifundiário gere a indisciplina dos seus
trabalhadores agrícolas, etc.etc.
Se
olharmos para a génese de muitas falências verificamos que muitas são causadas
por erros de gestão, por apostas mal medidas, por iniciativas pouco prudentes,
precipitadas e adoptadas com excesso de confiança. Vemos também a menor
sensibilidade que muitos gestores têm em relação ao cumprimento das suas
obrigações fiscais e perante a segurança social, o que, mais tarde, lhes traz
inúmeros dissabores em mais um sinal de imprudência.
Há
que começar a explicar às crianças e jovens o que é gerir e como gerir e gerir
bem. Como se deve, com um capital inicial, apostar, desde logo, na contenção de
despesas, pagando 1º o que é de lei pagar (IVAs e Segurança Social), depois
agir de forma a salvaguardar os postos de trabalho e, em simultâneo, motivar a
força laboral da empresa; pensar como melhorar cada vez mais a oferta, tornando-a
mais atractiva, ensiná-los a poupar e a não desperdiçar recursos de forma
inútil; ensiná-los a tentar acertar nas apostas que fazem e a saber levantar-se
quando alguma coisa corre mal.
Talvez a reconstrução do
país, comece mesmo por aí.
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