quarta-feira, 1 de agosto de 2012

William Wallace versus Nuno Álvares Pereira



Alguns biografos de Nuno Álvares Pereira chamam à atenção para as parecenças com o herói escocês William Wallace.

De facto, William Wallace (cuja personagem ficou gravada no cinema através do filme Braveheart) apresenta algumas semelhanças com Nuno Álvares Pereira e inclusive é provável que este soubesse, através dos seus amigos ingleses, das artimanhas e estratégias usadas por Wallace nas batalhas com o Rei inglês Eduardo I e que até se tivesse nelas inspirado sobretudo na forma como as suas vanguardas enfrentaram as investidas da cavalaria espanhola, em batalhas como Aljubarrota ou Atoleiros.

1º) Ambos lutavam conta Reinos mais poderosos em favor da independência, no caso de W.Wallace, pela aquisição da independência e no caso de D. Nuno pela manutenção da independência.

2º) Ambos tinham nas suas fileiras um grupo pouco organizado e composto por milícias populares, nem sempre bem armadas e apetrechadas.

3º) Ambos viveram no século XIV e tiveram de lidar com a nobreza cínica e calculista dos seus próprios reinos (no caso de William Wallace com a nobreza escocesa).

4º) Ambos tiveram uma educação baseada na formação religiosa e militar, associada a conventos ou ordens militares religiosas.

5º) Ambos venceram batalhas, utilizando estratégias inteligentes onde a desvantagem do menor número das suas tropas acabou por ser anulada pela maior  perspicácia e sagacidade destes heróis medievais.

No entanto, algo separa William Wallace de D.Nuno Álvares Pereira. Este foi declarado Santo cerca de 600 anos após a sua morte, enquanto o 1º não tem fama de santidade.

No entanto, este site veio recentemente exaltar as qualidades religiosas de William Wallace . Porém, não me parece que essas qualidades se possam equiparar às de D. Nuno Álvares Pereira.

Se verificarmos, as qualidades religiosas que são associadas a D. Nuno Álvares Pereira traduzem-se numa prática religiosa diária  e que se manteve ao longo de toda a sua vida praticamente sem qualquer interrupção.

Pelo contrário, no caso de William Wallace, o site em causa destaca a sua formação religiosa, durante a sua infância e adolescência, também as peregrinações que fez então e ainda a forma como, no fim da vida, encarou a morte.
No entanto, se formos a ver, em geral, ao longo de toda a idade média, é raro o militar ou o nobre que não se converta ou passe a viver de forma mais fervorosamente religiosa quando confrontado com a sua morte. Vejam-se, por exemplo, o caso dos Reis D. Afonso V, D. Fernando I ou dos Reis D. Sancho I e II que, inclusive, revogaram decretos contrários aos interesses da Igreja, como forma de anularem excomunhões contra si.
Também o hábito das peregrinações era comum e estava generalizado como algo que qualquer cristão habitualmente realizava, mais cedo ou mais tarde, na sua vida.
Assim, o comportamento religioso de William Wallace enquadra-se naquilo que é expectável para um cristão médio que viveu na Idade Média.

Por fim, refira-se que o próprio texto em causa refere que William Wallace, após o assassinato da sua mulher, Marian, afastou-se da Igreja, da prática religiosa e inclusive sabe-se que, em algumas das suas batalhas, actuou de forma particularmente violenta e cruel para com os seus adversários- facto que nunca aconteceu em D. Nuno Álvares Pereira.

Por isso, semelhanças existem, com diferenças à parte.

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