Vi recentemente o filme “O Véu Pintado”, baseado num romance de W. Somerset Maugham que aborda a temática do amor nas suas várias vertentes.
Trata-se de uma reflexão profunda que é feita ao compasso da história de um casal que vive um amor falhado, afectado pelo adultério e pelo desentendimento crónico.
Os protagonistas desta história que se passa na China dos anos 20, são um médico, Dr. Walter Fane (Edward Norton) e Kitty (Naomi Watts) uma jovem inglesa frívola, fútil,superficial e extremamente egocêntrica.
Confrontado com a traição, o marido aceita dar o divórcio à mulher mas antes como castigo leva-a para um centro de surto de cólera no interior da China profunda. Aí ambos são confrontados com a morte, a miséria, a pobreza, a doença, mas também o risco dos nacionalismos.
Enquanto o mundo desaba à sua volta, ameaçados pela doença e pelos revolucionários nacionalistas, cultivam entre si a indiferença e a agressividade mútua.
Porém, ao testemunharem as tribulações dos mais necessitados e, em particular, a entrega e generosidade de um conjunto de freiras que teimam em não abandonar os doentes, ambos são interpelados para zonas do amor que até aí desconheciam.
Aí, sobretudo Kitty, descobre que o amor não é só luxúria, sentimento ou paixão, mas também é sacrifício, entrega e dedicação e, assim, progressivamente, ambos vão, pela primeira vez, encontrar o sentido do verdadeiro amor.
Com essa apreensão do verdadeiro sentido do amor, nessa ascese platónica das sombras da caverna em direcção à luz, Kitty descobre também que o amor, numa fase mais madura, pode não ser sentimento e ser só entrega e fidelidade. É a própria Madre Superiora do Convento que, já no final do filme, lhe fala da sua paixão pela religião, desde os 17 anos e de como essa paixão se transformou em algo mais frio, mas ao mesmo tempo mais sólido.
Para si, o amor passou a ser um dever e daí a sua vontade em manter o seu posto, em manter o serviço aos outros.
A este propósito, lembro-me de um comentário do saudoso Prof. Morais Barbosa, catedrático de filosofia que, um dia, num programa de tv, teve a coragem de dizer que o amor não é um sentimento.
Num mundo onde as telenovelas, reality shows, revistas cor de rosa, etc.. nos transmitem que o amor é a mera paixão historicamente situada de cariz iminentemente físico e sentimental, este filme não deixa de ser uma forte interpelação a uma visão mais profunda do que é o verdadeiro sentido do amor.
Sem querer desvendar o fim do filme, apenas uma palavra para o tema musical que o encerra “A la claire Fointaine”, uma balada simples e pueril que fala do amor cantado por um rouxinol, verdadeiramente deslumbrante !
Aqui fica um excerto:
2 comentários:
Obrigado pela dica!
:O)
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