quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O Senhor dos Anéis


Um dos livros que durante a adolescência sempre tentei ler, sem sucesso, foi a saga do “Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien. A razão da minha dificuldade residia no, a meu ver, exagero de descrições que é feito pelo autor, criando um mundo totalmente novo, onde todas as personagens são apresentadas de forma muito completa e exaustiva. A dada altura uma pessoa perdia-se e (volto a dizer), para mim, tornava-se um pouco maçador e nada estimulante.
Quando os filmes apareceram finalmente tive oportunidade de saborear um pouco o gosto dessa saga, escrita por um professor de linguística para os seus filhos menores. É certo que os filmes não são 100% fiéis aos 3 livros da saga mas ainda assim ajudam-nos a ter uma boa ideia da trama e da intenção do seu escritor.
A história chamou-me à atenção por várias razões. Desde logo, o facto de haver um anel que representa o poder supremo e que exerce uma sedução enorme e demolidora sobre qualquer homem que directa ou indirectamente se aproxima dele.
Depois a ideia de haver alguém, Frodo, que precisamente pela sua simplicidade e humildade de coração, é escolhido para o transportar até às fornalhas de Mordor, com vista à sua destruição.
A senda é caracterizada por ínumeras batalhas, onde muitos vão perdendo a vida. Logo, no 1º filme “A Irmandade do Anel”, um dos aliados de Frodo, Boromir caí na tentação de se deixar seduzir pelo poder irradiado pelo anel e, num acto momentâneo de loucura, tenta roubá-lo a Frodo. Ao ver o que tinha feito, caí prostado e, arrependido, acaba por lutar heroicamente até à morte em defesa do amigo Frodo.
Por esse motivo se compreende a pergunta de Frodo a Aragorn depois deste lhe ter relembrado a jura que fez de que o iria proteger.
Frodo pergunta-lhe, “mas e juras proteger-me de ti próprio ?”
Por este motivo, à semelhança dos livros, os filmes abordam duas situações paralelas de guerra e conflito. Uma de guerra exterior, onde se travam violentas e heróicas batalhas e outra de luta interior em que Frodo tenta, a todo o custo resistir ao poder sedutor do anel que carrega à roda do pescoço.
Como se verá, é mais fácil combater um inimigo externo do que as tentações provenientes do fundo de cada um.
Há também uma figura que marca a história do anel, Gollum, um aldeão que se transforma totalmente, até do ponto de vista físico, vivendo uma dependência doentia do anel que venera e o escraviza até à exaustão.
O final é chocante pelo que tem de decepcionante pois, após muitos terem dado a vida para que Frodo pudesse chegar às fornalhas de Mordor, este, num acto de egóismo e fraqueza, acaba por se recusar a destruir o anel. Nesse sentido, o livro é realista uma vez que não escamoteia a natural fraqueza humana e a ideia de que até os heróis podem soçobrar perante a sedução do poder, da arrogância e da soberba.
Frodo falha a sua missão e só a ganância e a dependência doentia do anel é que fazem com que o mesmo acabe por cair na fornalha de Mordor, no dedo de Gollum que morre extasiado de felicidade por o ter finalmente consigo.
“O Senhor dos anéis” tem muito a ver connosco e o mundo em que vivemos. Por alguma razão, já no séc. XVI, Thomas Hobbes dizia “Homo homini lupus”, isto é, o homem é o lobo do homem.


Artigo publicado na edição de Outubro do jornal regional "Notícias de S.Brás"

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