Estaremos perante uma enorme oportunidade perdida se esta crise não levar os responsáveis políticos e mundiais a requestionar tudo o que aconteceu até aqui. Os sistemas económicos, financeiros, de assistência social, a forma como se encara o trabalho, a forma como se aplicam os impostos, como se encaram os idosos, as crianças, a família, etc.etc.
O maior dos erros será promover as reformas necessárias apenas com o mero intuíto de voltar ao anterior cenário que esteve precisamente na origem desta crise. É importante evitar a aplicação da frase “Há que mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”. Não é só o sistema económico comunista que demonstrou o seu fracasso. Este sistema de economia de mercado é um sistema acabado e que “já deu o que tinha a dar”. Não traz felicidade, nem prosperidade às pessoas. Sem dúvida que será o menos mau dos sistemas, mas só isso não chega. Há que reinventar um novo sistema, quebrando tabus e clientelismos.
Não basta promover a produtividade ou combater o déficit orçamental, há que promover antes um sistema que tenha como base, princípio e fim a humanidade em todas as suas vertentes, desde o momento da sua concepção até ao momento da sua morte natural.
Recentemente fiquei muito chocado com as palavras de uma das mais altas dirigentes do Partido Democrata de Barack Obama, Nancy Pelosi que justificava os programas recentemente aprovados de apoio à contracepção e ao aborto, dizendo que a assistência às crianças na saúde e na educação são uma das razões que mais contribuem para o déficit dos orçamentos estatais pelo que, ao se promover a redução de nascimentos, estar-se-ão também a reduzir custos e a poupar nas receitas públicas.
Estas considerações são totalmente contrárias às constatações feitas recentemente por especialistas mundiais que, no documentário “Inverno Demográfico” (também disponível em português), concluem pela necessidade urgente de promover não só a natalidade mas também e, sobretudo, a família como elemento estabilizador da natalidade e da educação. Dizem aí esses professores universitários que embora a necessidade de promover a natalidade seja algo praticamente aceite de forma unânime pelos especialistas, tal é praticamente omitido pelos grandes por ser politicamente incorrecto.
Esta mentalidade economicista que condiciona a vida de valor intemporal a circunstancialismos e condicionalismos de natureza meramente temporal e provisória é a mesma mentalidade que está por detrás da defesa da eutanásia, com destaque para a eliminação dos mais idosos- seres improdutivos e que apenas causam despesa e aumentam o déficit público.
Há, pois, que repensar seriamente o que pretendemos da nossa sociedade e dos nossos Estados e, a partir daí, reestabelecer e reinventar novos critérios e sistemas de governação.
P.S.- Não posso acabar sem deixar uma palavra de estima e consideração pelo recentemente falecido Pe. Campos. Dele guardo as celebrações eucarísticas a que presidia na Igreja de S.Romão e que conduzia com grande dedicação e particular empenho na elaboração das homílias que preparava por escrito e que se caracterizavam pela sua riqueza de contéudo, sempre com muitas citações e histórias para contar. E guardo também a forma muito gentil e simpática como me cumprimentava na rua, inclinando-se ligeiramente quando, na realidade, deveria ser antes eu a fazê-lo. É uma grande perda não só para a paróquia, mas também para S.Brás inteira. Quem acredita no céu, acreditará também que ele lá estará a interceder pela nossa terra.
(Artigo publicado este mês no "Noticias de S.Brás")
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