domingo, 28 de fevereiro de 2010

Madeira renascida

Algumas coisas têm me impressionado neste assunto das cheias da Madeira:
1) A categoria humana dos madeirenses.
O seu sentido de recomeço, de solidariedade, entre-ajuda, a sua mentalidade positiva e o seu dinamismo, a sua força de vontade, tal como se destaca nesta notícia onde se afirma o seguinte:
"Um povo superior- É, muito provavelmente, a expressão mais utilizada pelos madeirenses que estiveram envolvidos nas buscas de desaparecidos, nos salvamentos de pessoas presas em suas casas ou na limpeza das ruas e estabelecimentos comerciais afectadas pela enxurrada de há uma semana: «Somos mesmo um povo superior».
Também dizem que são portugueses de alma e coração e não de segunda, agradecendo toda a solidariedade que tem vindo do continente
2) O conceito de Estado e de sociedade civil dos madeirenses.
A sociedade civil e o Estado, em matéria de reconstrução da ilha, de retoma comercial e económica, são um só. Não há oposições, não há mesquinhez, não há calculismos. O Governo madeirense quer o melhor para a sociedade civil e a sociedade civil actua, por sua vez, em favor do bem comum. Agem ambas em uníssono nos objectivos e nos meios.
Foi impressionante ver um construtor civil colocar 3 máquinas suas gratuitamente nas ruas, com homens seus, a limpar a estrada pública mais próxima; ver os próprios comerciantes, nas suas ruas a limpá-las, sem exigir nada em troca, sem necessidade de burocracias, sem perder tempo em lamentos ou em queixumes.
Será que isto no continente seria possível ?
O divórcio entre o Estado e a sociedade civil, no continente, é tão grave e abissal que a resposta só poderá ser negativa.
No continente, o Estado está associado a má organização, clientelismo político, esbanjamento de recursos, falta de bom senso, etc...
Por sua vez, a sociedade civil pura e simplesmente não existe. Limita-se a meia dúzia de grupos de pressão, associações ou sindicatos que apenas pretendem garantir a realização dos seus interesses corporativos.
3) A actuação da Cáritas diocesana madeirense.
Em Portugal continental os representantes do Estado quase que ficam ofendidos quando a sociedade civil cumpre um papel tão bem ou melhor que os próprios organismos públicos.
Na Madeira, como a sociedade civil e o Estado estão intrinsecamente unidos, instituições como a Cáritas diocesana são vistas como um auxílio e não um concorrente opositor.
Fantástica a actuação da Cáritas, na forma como organizou, recolheu e fez chegar o auxílio material aos madeirenses.
Sem ideologias parolas, pelo senso comum, pelo bem comum. Quando as pessoas sabem que o bem do Estado coincide com o meu bem pessoal e vice-versa.
Será a Madeira a ilha que Thomas More relatava no seu livro "A Utopia" ?

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