domingo, 23 de outubro de 2011

O prémio de São Brás de Alportel


A reportagem radiofónica "A Vila Cosmopolita", da Antena 1, é uma autêntica obra-prima do jornalismo radiofónico; um excelente trabalho de reportagem e montagem da autoria dos jornalistas Cristina Pinto e Luis Rocha sobre a diversidade cultural e a integração social de estrangeiros residentes no concelho de S.Brás de Alportel.
A primeira vez que a ouvi, vinha a conduzir, de carro, entre S.Brás de Alportel e Faro e encantou-me logo pela sua qualidade e pela forma tão fidedigna como consegiui reproduzir aquilo que efectivamente se sente neste concelho: um espírito forte de solidariedade, inter-ajuda e comunidade.
Lembro-me de poucos dias depois ter comentado este facto com o presidente da comissão política concelhia do PSD e há poucos meses atrás fiquei a saber que esta reportagem foi objecto de um (mais do que merecido) prémio atribuído pelo Alto Comissariado para a Imigração e para o Diálogo Intercultural (ACIDI).
Nos dias que correm só o que tem, so ó que se vê, só o que está melhor equipado é que conta, tudo o que não é palpável não interessa nada. Quando olhamos para a valorização das cidades e dos municípios quase sempre aplica-se a mesma lógica: recursos, shoppings, hipermercados, infraestruturas é o que conta Por isso, um município sem um gigantesco shopping center, um hipermercado, um praia ou uma ligação de viá rápida à auto-estrada mais próxima é um município falhado e pobre.
Os shoppings, então, são já um “must”. Assim como antes cada vila ou povoação teria que ter uma Igreja, agora tem que ter necessariamente uma catedral dedicada ao deus consumo onde os consumidores lhe possam ir prestar culto e vassalagem. No Fórum Algarve, em Faro, inclusive, chega a haver sino e tudo, tal como nos locais de adoração e culto.
E S.Brás de Alportel ? Não será este concelho um dos mais menosprezados e esquecidos do Algarve a par de Alcoutim ? Aqui não há shoppings-centers, nem praias, nem hoteis de luxo, nem grandes hipermercados.
Mas se ouvirmos com atenção esta reportagem radiofónica e o nome que os seus autores lhe deram de “A vila cosmopolita” vemos que, afinal, São Brás de Alportel é uma vila riquíssima e ímpar porque a qualidade das suas gentes, o modo original e único como se relacionam, inter-agem, o modo como os estrangeiros e o portugueses não originários daqui se integram nas tradições locais e criam laços de afecto é absolutamente ímpar e extraordinário. Sem dúvida que a reportagem está tecnicamente muito bem feita, quer na forma como os depoimentos foram recolhidos, quer na forma como a montagem foi feita, mas o que verdadeiramente a enriquece é a sua matéria prima, é São Brás de Alportel.
O que a actual crise nos está a ensinar é que, afinal, não é o betão, nem o asfalto, nem o último modelo, nem as compras que nos levam ao sucesso. O que nos leva ao sucesso é a riqueza humana, é o acolhimento, é a capacidade de trocar, dar e receber. Que me desculpem Lisboa, Faro ou Olhão ou outros mas dificilmente, para não dizer nunca, poderão esses munícipios ser aquilo que São Brás é.
Há uma frase do actor Martin Sheen, numa entrevista que, a meu ver, encaixa que nem uma luva naquilo que é S.Brás de Alportel: “Só quando cooperamos uns com os outros é que conseguimos quebrar todas as barreiras de nacionalidade, cultura, raça e religião e é aí que alcançamos o centro da nossa humanidade comum e isso é que é a verdadeira espiritualidade”.Se possível, escolas, associações, instituições e município recolham a gravação desta reportagem premiada, promovam-na entre os mais jovens, meditem nela e façam nos pensar, depois, no que é que é verdadeiramente importante.

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