"Na noite de Natal fui à Catedral de St. Patrick (...). Cheguei, sentei-me. Deram-me um lugar péssimo, atrás de um pilar enorme. Não conseguia ver nada. Estava para ali sentado, tendo voltado de Tóquio ou algum sítio desse género. Eu fui pelo canto, porque adoro canto coral. (...) Mas estava a adormecer, pois estava a pé há alguns dias, viajando, porque a missa era um bocado aborrecida e comecei a cabecear, não via nada.
Então comecei a tentar manter-me acordado estudando o que estava na página. Revelou-se-me pela primeira vez, verdadeiramente. Já tinha percebido antes, mas, de facto, compreendi: a história do Natal. A ideia de que Deus, se houver uma força de Amor e Lógica no Universo, que se tenta explicar, é espantoso o suficiente. Que tenta explicar-se a si mesma e se descreve ao tornar-se uma criança nascida na pobreza extrema, em merda e palha...uma criança...Eu simplesmente pensei "Uau!" Só a poesia...Amor desconhecido, poder desconhecido, descreve-se a si mesma como a mais vulnerável. Ali estava. Eu estava ali sentado, e não é que não se me tivesse revelado antes, mas caíram-me lágrimas pela face, e vi o genial disto, o génio absoluto de pegar num momento particular no tempo e decidir transformar-se nisto.
(....) Para mim, faz sentido. É, na verdade, lógico. É pura lógica. A essência tem de se manifestar a si mesma. É inevitável. O amor tem de se tornar numa acção ou em algo concreto. Teria de acontecer. Tem de haver uma encarnação. O amor tem de ser feito carne."
Bono por Bono. Ulisseia. Pág. 144
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