domingo, 14 de junho de 2009

Regícidio


Terminei o "Regícidio" do jornalista e escritor Rocha Martins que será, talvez, a obra historicamente mais próxima do atentado e com a recolha de dados mais "fresca" de todas as muitas outras obras que se lhe seguiram.


Como diz aqui, Aquilino Ribeiro, parece que efectivamente o objectivo era matar João Franco, o que não tendo sido possível, precipitou, em alternativa, o assassinato do rei.

Sem dúvida que houve algum descuido e falta de sensibilidade na forma como o Rei D. Carlos geriu a situação do governo de João Franco, sobretudo a questão dos "adiantamentos" em favor da casa real, numa altura em que o povo passava dificuldades, caíu muito mal.


Resta saber até que ponto é que um rei mais prudente, em termos de política interna, teria ou não evitado a queda futura da monarquia, tendo em conta a forte dinâmica e implantação do movimento republicano pelo país fora.


Devo dizer que a I República (aqui enaltecida), apesar de várias medidas positivas e modernizadoras do país, não trouxe grande novidade ao país: o caciquismo manteve-se, a má gestão, a corrupção, as crises parlamentares, etc...

Aliás, basta destacar 2 factos que mostram bem a moralidade da I República:

- O total alheamento e abandono de pessoas que lutaram ou sofreram pela futura república, permitindo que muitos morressem quase na miséria (Por ex. Trindade Coelho, entre muitos outros que o livro vai mencionando em notas de rodapé).

- O enriquecimento e aburguesamento das figuras de proa, Afonso Costa e António José de Almeida, à medida que a república se vai implantando. Destaco, aliás, uma foto que não está neste livro, mas num outro do circulo de leitores, onde se pode ver Afonso Costa, com a sua família, vestindo caros sobretudos e casacos de peles, a posar, na sua quinta particular enquanto o povo continuava a passar mal.


Em conclusão, o mal não está na monarquia ou na república, mas no mau uso que os homens lhe dão.

Ambos os sistemas têm vantagens e desvantagens, tudo depende das qualidades pessoais dos seus protagonistas.


P.S.- Aqui ficam algumas curiosidades, a propósito deste livro:


1) Li o livro ao longo de 1 ano, aos soluços, em alguns minutos do fim de semana, durante o tempo em que tinha que ficar no carro enquanto a minha filha dormia a sesta e a minha mulher ía às compras.


2) Manuel Buíça teve a sua última morada nas Escadinhas da Mouraria (ou também chamada rua das Escadinhas da Saúde), nº4, 4º esquerdo, em Lisboa (quem viverá lá, agora? E que será feito dos descendentes dos seus filhos, Elvira e Manuel Silva Buíça ?).


3) Alfredo Costa, o outro regícida, no próprio dia do regícidio, esteve na casa de Meira e Sousa, um dos revolucionários republicanos, sita na rua Nova do Almada, nº84, onde durante muito tempo se escondeu Aquilino Ribeiro.

Para quem vá de caminho à H&M, como é o meu caso, não deixa de ser um sítio interessante para recordar.


4) Os descendentes do odiado Presidente do Conselho João Franco andam por aí. São os descendentes de uma história viva.
Pela internet, via Geneall, encontrei dois deles, seus trinetos, Pedro António Monteiro Franco, um dos descendentes mais novos, com 19 anos, ex- aluno da Escola Secundária Rainha D.Amélia e a sua tia, Maria Lívia Beltrão Franco Marques Pereira, é ou era professora de Relações Internacionais na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa e fez doutoramento sobre o tema "Alexis de Tocqueville e a Liberdade Política: Um estudo sobre a cidadania em democracia".

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