O Pedro morreu...
Era mais novo do que eu. Tinha uns 34 anos.
Era advogado como eu e trabalhava que nem um cão. Ele muito mais do que eu.
Solteiro.
Era viciado em trabalho. Ou melhor, o trabalho perseguia-o e ele era dominado, mas, no fundo, no fundo, gostava do que fazia.
Era cumpridor em matéria fiscal. Orgulhava-se (e bem) de passar recibos a todos os clientes e de ter a segurança social em dia com a sua secretária.
Andava sempre com umas grandes olheiras porque trabalhava até tarde.
Tinha uma carteira de clientes enorme porque, apesar da sua juventude, era um advogado extremamente competente e muito diligente.
Não tinha família constítuída, apesar do seu bom aspecto, sempre muito bem vestido e com muito bom gosto e que causava sempre grandes entusiasmos entre as colegas e até funcionárias judiciais.
Desde que cheguei ao Algarve, há 8 anos atrás, foi o colega com quem mais convivi, infelizmente, quase sempre telefonicamente porque o trabalho dos 2 não permitia grandes encontros pessoais.
Sempre disponível para me esclarecer dúvidas e trocar impressões, sempre extremamente simpático.
Ambos gostávamos muito um do outro. Isso notava-se sinceramente na alegria e no bem que estávamos quando nos víamos e sempre que nos encontrávamos.
Falarmos um com o outro e trocarmos impressões sobre a vida pessoal e profissional era sempre um prazer e um balão de oxigénio.
No último mês falei com ele 1 vez, a propósito de um juiz e (mais uma vez) queixámo-nos da vida de cão e de ingratidão que é esta profissão.
E encontrei-o também há 15 dias atrás na praia da RETUR em Vila Real de Santo António.
Falámos, ele riu-se, estava bem disposto. Fiquei contente de o ver "sem estar a trabalhar", acompanhado de um amigo e da sua mota.
Andava, tal como eu, sempre a correr atrás da sombra, sempre com prazos para cumprir, sempre com tarefas para realizar, sempre com coisas a ter que fazer para poder satisfazer o cliente A ou o cliente B.
6ª feira partiu deste mundo, num acidente de mota.
O Pedro, o meu amigo Pedro.
De certeza que teria esta próxima semana repleta de reuniões com clientes, colegas, audiências de julgamento, registos para fazer, escrituras para realizar.
Todas essas coisas que parecem sempre tão mais importantes que tudo. Que são sempre tão prioritárias do que a própria vida.
Desta vez, vão ter que esperar para sempre.
Amanhã, tenho o dia cheio:
Uma inquirição de testemunhas em Tavira e uma ida à Conservatória de Castro Marim de manhã, uma reunião com uma cliente e uns requerimentos e acções para fazer, à tarde.
Amanhã é o dia do seu funeral, aqui em Almancil.
Se calhar, como tenho o dia cheio tal como ele teria se tivesse vivo, não conseguirei ir ao seu funeral.
Mas, vou tentar ir e vou tentar tirar as ilações da vida do Pedro e esperar que os céus lhe sejam generosos pois o seu coração era-o.
Não tinha pinga de malvadez, nem de má astúcia como tantas vezes é imputada à nossa profissão.
Mal sabia eu que aquele cumprimento afectuoso que ambos trocámos na praia da RETUR há 15 dias atrás seria mesmo o último.
Que pena Pedro. E que raiva por já te teres ido.
Um abraço, Pedro e já que saudades !
Era mais novo do que eu. Tinha uns 34 anos.
Era advogado como eu e trabalhava que nem um cão. Ele muito mais do que eu.
Solteiro.
Era viciado em trabalho. Ou melhor, o trabalho perseguia-o e ele era dominado, mas, no fundo, no fundo, gostava do que fazia.
Era cumpridor em matéria fiscal. Orgulhava-se (e bem) de passar recibos a todos os clientes e de ter a segurança social em dia com a sua secretária.
Andava sempre com umas grandes olheiras porque trabalhava até tarde.
Tinha uma carteira de clientes enorme porque, apesar da sua juventude, era um advogado extremamente competente e muito diligente.
Não tinha família constítuída, apesar do seu bom aspecto, sempre muito bem vestido e com muito bom gosto e que causava sempre grandes entusiasmos entre as colegas e até funcionárias judiciais.
Desde que cheguei ao Algarve, há 8 anos atrás, foi o colega com quem mais convivi, infelizmente, quase sempre telefonicamente porque o trabalho dos 2 não permitia grandes encontros pessoais.
Sempre disponível para me esclarecer dúvidas e trocar impressões, sempre extremamente simpático.
Ambos gostávamos muito um do outro. Isso notava-se sinceramente na alegria e no bem que estávamos quando nos víamos e sempre que nos encontrávamos.
Falarmos um com o outro e trocarmos impressões sobre a vida pessoal e profissional era sempre um prazer e um balão de oxigénio.
No último mês falei com ele 1 vez, a propósito de um juiz e (mais uma vez) queixámo-nos da vida de cão e de ingratidão que é esta profissão.
E encontrei-o também há 15 dias atrás na praia da RETUR em Vila Real de Santo António.
Falámos, ele riu-se, estava bem disposto. Fiquei contente de o ver "sem estar a trabalhar", acompanhado de um amigo e da sua mota.
Andava, tal como eu, sempre a correr atrás da sombra, sempre com prazos para cumprir, sempre com tarefas para realizar, sempre com coisas a ter que fazer para poder satisfazer o cliente A ou o cliente B.
6ª feira partiu deste mundo, num acidente de mota.
O Pedro, o meu amigo Pedro.
De certeza que teria esta próxima semana repleta de reuniões com clientes, colegas, audiências de julgamento, registos para fazer, escrituras para realizar.
Todas essas coisas que parecem sempre tão mais importantes que tudo. Que são sempre tão prioritárias do que a própria vida.
Desta vez, vão ter que esperar para sempre.
Amanhã, tenho o dia cheio:
Uma inquirição de testemunhas em Tavira e uma ida à Conservatória de Castro Marim de manhã, uma reunião com uma cliente e uns requerimentos e acções para fazer, à tarde.
Amanhã é o dia do seu funeral, aqui em Almancil.
Se calhar, como tenho o dia cheio tal como ele teria se tivesse vivo, não conseguirei ir ao seu funeral.
Mas, vou tentar ir e vou tentar tirar as ilações da vida do Pedro e esperar que os céus lhe sejam generosos pois o seu coração era-o.
Não tinha pinga de malvadez, nem de má astúcia como tantas vezes é imputada à nossa profissão.
Mal sabia eu que aquele cumprimento afectuoso que ambos trocámos na praia da RETUR há 15 dias atrás seria mesmo o último.
Que pena Pedro. E que raiva por já te teres ido.
Um abraço, Pedro e já que saudades !
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