quarta-feira, 9 de julho de 2008

Que crise ?


Nunca se falou tanto em crise como agora. Os preços de quase tudo, com especial destaque para os combustíveis, aumentaram; as dívidas da famílias e dos países menos ricos acumulam-se e o poder de compra, em geral, vai descendo de forma nunca vista.
Parece-me, porém, que convinha aproveitar esta oportunidade para não só pensar como sair da crise, mas também pensar qual a origem profunda desta crise.
É claro que o aumento do preço do petróleo tem também um pouco a ver com a instabilidade militar e política em zonas como o Irão, o Iraque, a Venezuela, etc. Nestes casos, o medo leva ao aumento do preço do petróleo. Mas também existem situações em que o petróleo é alvo de especulação por parte de fundos de investimento. Em quaisquer destas duas situações o preço de produção do petróleo não aumenta, o que aumenta é o seu preço no mercado, o que significa, desde logo, um acréscimo brutal nos lucros das petrolíferas.
Outra razão da crise económica prende-se com a chamada crise do “subprime” nos Estados Unidos onde vários bancos concederam muitos empréstimos para aquisição de casa a pessoas que depois se veio a revelar não terem meios para os pagar todos os meses. Aqui verificou-se também um certo facilitismo por parte das instituições bancárias que foram generosas quer relativamente à possibilidade de pagamento dos empréstimos por parte de pessoas com rendimentos menos altos, quer quanto à avaliação que fizeram dos imóveis em causa.
Em ambos os casos aqui referidos verifica-se um denominador comum: especulação financeira; facilitismo no acesso ao crédito, pelo lado dos bancos e ânsia e desejo, por vezes, desenfreado de consumo por parte dos clientes. São, no fundo, as consequências de um certo capitalismo mais exarcebado.
Muitos investidores que pretendem aplicar o seu dinheiro não hesitam em apostar em bens de primeira necessidade (petróleo, trigo, centeio, aço, carvão, ferro, etc..) para depois obterem mais valias. Isso causa graves transtornos ao mercado e contribui bastante para o aumento dos preços.
Com a queda do muro de Berlim, muitos consideraram que o capitalismo tinha vencido o comunismo. Inclusive, um autor Francis Fukuyama, defendeu que teríamos mesmo chegado ao fim da história porque se tinha encontrado o sistema político e económico ideal.
Vemos agora que o bem estar material embora ajude não traz necessariamente sempre a felicidade; o nº de pessoas nos países capitalistas com depressões não pára de aumentar e inclusive em países como a Suécia onde existe um qualidade de vida acima da média, as taxas de suicídio são bastante altas. Enquanto isso, a crise económica veio agravar a situação dos países mais pobres, mas também veio agravar a situação das classes baixas e médias dos países ocidentais.
Perante isto, há que recuperar alguns ideais do socialismo também defendidos pela doutrina social da Igreja: A redistribuição, a função social da propriedade e a opção preferencial pelos mais necessitados.
A isto também se podia juntar a proibição da especulação financeira- principal causadora da crise económica. Porém, essa opção que muitos esquerdistas mais radicais aplaudiriam viola o princípio da liberdade. A outra opção, será a penalização através dos impostos desses investidores especuladores e de todas as empresas privadas que beneficiam desta crise com o aumento dos seus lucros: A criação de um novo escalão de IRS para rendimentos acima dos actuais máximos ou a aplicação do chamado imposto “Robin dos Bosques” poderão ser uma alternativa. Porém, de nada servirão se os governos não souberem gastar as receitas fiscais com parcimónia, em investimentos sólidos, com especial destaque não só para a educação mas também para a formação dos mais jovens e no auxílio a quem verdadeiramente precisa.
Mas isso já é outra história...

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