O novo referendo para a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez, eufemismo da palavra “aborto”, deve ser interpretado num contexto político mais vasto. O governo prepara-se para tornar excedentários vários milhares de funcionários públicos. A contestação vai subir em flecha e nada melhor do que uma “manobra de diversão” para fazer desviar as atenções.
Embora ocorra de forma muito subtil e despercebida, estamos perante uma nova forma de combate e desincentivo a natalidade.
Senão vejamos:
O recurso aos contraceptivos começa por evitar a concepção de um novo ser indesejado (até aí tudo bem). Mas se a mulher não se tiver prevenido antes e, por isso, existir a possibilidade de ter havido concepção, então aí entra a chamada “pílula do dia seguinte”. Mas se a mulher não tiver tomado a pílula do dia seguinte, então aí entra a possibilidade de realizar o aborto até às 10 semanas. Mas se isso não for possível e se a mãe tiver o azar de viver em certas zonas do país, então aí entra a dificuldade em nascer numa maternidade que esteja próxima. Mas se o bébé (qual herói Homérico), depois desta epopeia toda, conseguir nascer, a sua mãe, se tiver um trabalho precário, sempre pode ainda vir a perder emprego. Mas se a mãe do bébé não tiver perdido o emprego, terá ainda que fazer uma noitada à porta das Misericórdias ou dos infantários, a mendigar uma vaga para o filho. Por fim, se quiser ir às compras num shopping terá que estacionar o carro longe da porta de entrada ou violar o código da estrada, correndo o risco de ser multada por ter estacionado no lugar dos deficientes e não no lugar das grávidas e acompanhantes de colo que, na esmagadora maioria dos casos, ou é em número insuficiente (Vide Fórum Algarve, em Faro) ou, pura e simplesmente, nem existe (Vide o novo Leroy Merlin, em Albufeira). E isto já para não falar em hotéis, onde, à entrada, se podem ver placas a excluir expressamente a entrada de cães e crianças.
O Estado não protege, nem incentiva a natalidade. Enquanto isso, o sistema de segurança social vai-se afundando cada vez mais, porque cada vez vão existir menos jovens a descontar para um maior número de idosos a viver. O dilema é sempre o mesmo: Ou o Estado e a Sociedade Civil se empenham em criar condições para que se possa nascer, viver e morrer em condições. Ou, nem sequer se tenta, dando-se logo a batalha por perdida, optando-se pela via mais fácil da simples eliminação física. Neste caso, do elo mais fraco que culpa nenhuma tem por a mãe viver num bairro da lata, estar desempregada ou o pai ser um crápula.
Associações como a “Ajuda de Mãe”, a “Ajuda de Berço”, “Vida Norte”, “Ponto de Apoio à Vida” e tantas outras, mostram que é possível transformar o pesadelo de tantas mulheres em alegria e felicidade. Nunca ninguém disse que viver é tarefa fácil. Mas a alguns, deixem-nos, ao menos, tentar !
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