sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Obrigado mamã

Sinto muita pena por não poder ter te feito e não poder ter te dito muitas coisas que certamente te teriam dado mais felicidade. Como tu sabes, a nova vida aqui em S.Brás e o frenesim profissional foram-me impedindo de estar mais tempo contigo, apesar das muitas vezes que falávamos ao telemóvel.
Foste uma das pessoas que, neste mundo, sofreu a morte de um filho menor e isso foi uma hemorragia aberta que te marcou para a toda a vida. Mas ainda assim, apesar de todo o teu sofrimento e de quanto isso te afectou no resto da tua vida, queria-te dizer que foste uma excelente mãe. Queria agradecer-te por me teres ensinado a cumprir as minhas obrigações, e em especial, procurar nunca dever nada a ninguém. Transmitiste-me os valores positivos da geração de 60 que viveste tão intensamente. Dizias-me que, na escola ou na universidade, podia chumbar à vontade e que quando isso acontecesse iríamos jantar fora a comemorar e fostes tu que me deste a experimentar o primeiro cigarro ainda quando tinha tenra idade. Com isso, conseguiste que nunca tivesse chumbado e que nunca tivesse fumado mais na vida. Davas-me a escolher em liberdade e com isso educaste-me na liberdade. Por isso, agradeço-te a educação que me deste: boa e livre.
Obrigado pela atenção que me davas permanentemente; pelos sacrifícios que fizeste por mim; pelos lençóis de flanela quentes e com cheiro a lavado que me punhas nas noites frias de inverno; por estares sempre ao meu lado quando estive doente; pelas palavras de conforto, compreensão e animo que me dizias quando estava preocupado. Tu sabes que aquilo que sou hoje, em grande parte, foste tu que me deste. Obrigado também pelo grande amor que tinhas ao teu neto que era, para além de mim, a tua razão de viver. Não te preocupes, quando ele for grande, vou-lhe contar as duas excelentes avós que teve.
Emocionaste-te há uns meses atrás com aquele filme que falava da história de um filho e de uma mãe que se apoiavam mutuamente em momentos de grande sofrimento porque fostes uma boa mãe, como todas as mães que, por o serem, deveriam-no ser.
Em Lisboa, deixaste a marca da boa disposição própria dos algarvios, sempre alegre e comunicativa. Todos conquistaste e todos sentem, agora, a tua falta. Eu também sinto muito a tua falta. Acredito que fostes numa viagem e que, um dia, voltaremos encontrar-nos em conjunto com todos os que já partiram e que nos são muito queridos. Até lá, desde aí, olha por nós.
Obrigado.

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