Uma das origens da crise actual é inegavelmente a existência de uma crise ética e de valores.
E essa crise existe porque, muitas vezes, nós não estamos motivados para a prática dessa ética de valores e também porque, por sua vez, quem nos deveria motivar para essa ética de valores (família, Estado, Igrejas, entre outras) não o faz de forma conveniente, nem muito menos de forma convincente.
No caso concreto da Igreja Católica e, em particular, da Igreja Católica Portuguesa verifica-se uma enorme debilidade ao nível da capacidade de mobilização que está muito relacionada com a incapacidade de transmitir de maneira convincente a sua mensagem.
Alguma parte da Igreja Católica Portuguesa ainda vive pensando que pode beneficiar dos privilégios do Estado e que a sua preponderância se justifica somente por motivos de ordem cultural, religiosa ou até mesmo etnográfica.
Há a ideia de que basta celebrar casamentos, baptizados e cumprir o minímo de ir à missa ao domingo. A ideia de formar, de motivar ou de impelir à acção é coisa pouco falada.
Há uns meses atrás, chamou-me à atenção, na cidade espanhola de Huelva, um cartaz gigante que praticamente tapava um dos lados da fachada de um Igreja Católica, onde se anunciava um curso de formação doutrinal com temas apelativos e num horário adequado.
E, para ilustrar esse convite feito ao público, citava a resposta que Cristo deu a alguns dos seus primeiros discípulos que lhe perguntaram "Mestre, onde vives".
E a resposta lá estava em letras garrafais impressas junto a uma das avenidas mais movimentadas de Huelva em forma de convite a todos os transeuntes - "Vinde e Vede !".
Como dizia o Cardeal John Foley, responsável pela relação entre a Igreja e os Media, numa conferência a que assisti há muitos anos atrás na Universidade Católica, a Igreja tem para oferecer algo muito melhor do que a coca-cola, mas a coca-cola faz mais e melhor divulgação do que a Igreja.
Muitos sacerdotes portugueses cultivam uma linguagem inacessível, moralista-bafienta, abstracta e que nada tem a ver com a vida do dia a dia das pessoas ou, melhor, não conseguem ligar o sentido e utilidade da mensagem cristã às necessidades e contingências do nosso dia a dia.
Numa situação em que é difícil arranjar catequistas formados quer do ponto de vista doutrinal, quer do ponto de vista pedagógico, deve ser, muitas vezes, o próprio sacerdote a "descer" do seu altar, colocando-se ao nível das pessoas, a comunicar de forma gráfica e (porque não?) divertida a mensagem dos valores que pretende transmitir.
Aqui deixo um exemplo positivo concreto de um jovem sacerdote norte-americano, de 31 anos, que se coloca ao nível de jovens adolescentes para lhes transmitir o sentido e a utilidade do sacramento da confissão. Fá-lo de uma forma divertida, encenando um teatro onde ele próprio, no final, finge confessar-se a um dos jovens aí presente.
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