sábado, 19 de maio de 2007

Mês da Fome no Rádio Clube Português

Esta iniciativa do Rádio Clube Português, numa primeira abordagem, pareceu-me um pouco aquela caridadezinha e aquelas frases bonitas que fica sempre bem dizer para enganar a nossa própria consciência individual e colectiva.
O mal destas coisas é que fica sempre tudo muito no abstracto e no ar, tipo "palmadinhas nas costas" para depois ficar tudo na mesma, numa clara sensação de impotência perante o que se está a passar.
Porém, à medida que fui ouvindo as reportagens jornalísticas que são muito concretas e pessoalizadas, fui mudando a minha opinião.
Fiquei particularmente impressionado pelo depoimento que passou no passado dia 18, de uma Angolana que vive sozinha, na linha de Sintra, com 3 filhos menores, que trabalha num restaurante, cujo salário vai todo para pagar a renda de casa e pouco mais, que dizia, em lágrimas, muitas vezes, comer apenas pão e água, para que os filhos pudessem comer melhor; que os filhos, às vezes, lhe pediam leite e iogurtes e ela não tinha para lhes dar.
Este relato impressionou-me porque, felizmente, tenho a possibilidade de ter o meu frigorífico cheio de iogurtes, dos mais diversos tipos e o meu filho mais velho tem a possibilidade de diariamente consumir 3 iogurtes. E, também, porque, em minha casa, tal como em muitas outras, por motivo de erro de cálculo na medida com que se confeccionam os alimentos, por esquecimento na dispensa ou no congelador, ou porque não gostamos das pernas do frango ou por, afinal, não ter dado tempo para cozinhar o que se descongelou ou porque não há a possibilidade de comer as sobras, muitas vezes, vai comida para o lixo.
Iniciativas como o "Banco Alimentar" são extremamente positivas.
Mas, porque não (apesar de parecer um pouco naif ou até disparatada) haver, por exemplo, ao nível local, através das Juntas de Freguesia ou das Misericórdias, uma rede de contactos entre quem tem a mais e quem tem a menos, de forma a fazer encontrar a oferta com a procura?
Podia, por exemplo, alguém telefonar a dizer "sobraram-me batatas fritas e 3 pedaços de bife, podem cá vir buscar". E esse alguém, entraria em contacto com quem precisasse e fazia-lhe chegar as sobras dos outros.
Pode parecer ou soar a chocante o dar as sobras. Esta atitude faz-me um pouco lembrar os que têm vergonhar de dar o filho indesejado para adoptar, mas já acham muito bem darem-no para ser abortado...
Aqui, acho que há que ser práticos. Apesar de naif, é sempre melhor dar os restos ou a comida que se sabe de antemão que não será confeccionada a quem precise do que deixar a comida para o cão ou para as moscas do lixo.
É que se houvesse melhor redistribuição, haveria muito menos gente a passar mal e nem era preciso chamar a ajuda do Estado para nada. Nós, próprios, na sociedade cívil poderíamos contribuír bastante para resolver o problema.


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