Um dia, na sua coluna habitual no "Expresso", há muitos anos atrás, Clara Ferreira Alves escreveu que era católica, com um catolicismo à Graham Green.
Clara Ferreira Alves é capaz do melhor e do pior, como todos nós, pois já lhe li numas artigos bastante verrinosos. Mas, recordo igualmente que o artigo que li mais profundo, do ponto de vista teológico, sobre o filme "A Paixão de Cristo" foi precisamente de Clara Ferreira Alves que, aliás, guardo religiosamente numa das minhas pastas de recortes de jornais.
Mas isto a propósito do filme "O Fim da Aventura", de Neil Jordan, baseado na obra com o mesmo nome de Graham Green, com Ralph Fiennes e Julianne Moore que fazem um papel extraordinário juntamente com o marido enganado, Stephan Rea.
Esta história de um triangulo amoroso, dramática, simultaneamente carnal e espiritual que nos abre para os enigmas da Divindade é verdadeiramente uma obra prima.
Graham Green viveu, na sua vida, este paradoxo de, por um lado, sentir que não podia negar a sua fé católica e a sua abertura à espiritualidade, por outro, sentir o sabor do pecado, através da paixão proibida que viveu na sua vida. Nesse particular, faz lembrar o Santo Agostinho que, logo após a sua conversão, pedia a Deus a castidade "mas por enquanto ainda não".
Quem puder, veja e reveja o filme e se lhe abrir o apetite, leia o livro. Vale a pena e presta-se a muitas e diferentes leituras.
Esta cena que aqui coloco é uma das minhas preferidas, mas a cena do amante agnóstico a vociferar contra Deus, a cumplicidade entre a mulher, o marido e a amante que assume o seu climax no final do filme, o milagre final, a fraqueza da vontade condicionada pela paixão, enfim há muito material por explorar.
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